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Art. 1 – Se a audácia é pecado.

O primeiro discute–se assim. – Parece que a audácia não é pecado.

1. – Pois, diz a Escritura, falando do cavalo, que significa o bom pregador, segundo Gregório: Salta com brio, corre ao encontro dos armados. Ora, nenhum vício é objeto de louvor, em ninguém. Logo, ser audaz não é pecado.

2. Demais. – O Filósofo diz, devemos ser tardos em deliberar, e realizar o deliberado rapidamente. Ora, a audácia ajuda a agir rapidamente. Logo, a audácia não é pecado, mas antes, é digna de louvor.

3. Demais. – A audácia é uma paixão causada pela esperança, como se estabeleceu, quando se tratou das paixões. Ora, a esperança não é considerada pecado mas, antes, virtude. Logo, também a audácia não deve ser considerada pecado.

Mas, em contrário, diz a Escritura: Não te ponhas a caminho com o homem atrevido para que não suceda que ele faça cair sobre ti os seus males. Ora, não devemos fugir da sociedade de ninguém senão por causa do pecado. Logo, a audácia é pecado.

SOLUÇÃO. – A audácia, como dissemos, é uma paixão. Ora, a paixão é às vezes moderada pela razão; outras vezes, carece de o ser, por excesso ou por defeito e então, é uma paixão viciosa. Ora, às vezes, as paixões se denominam pelo que nelas é superabundante; assim, ira se chama, não qualquer, mas a excessiva, que é viciosa. E, deste modo, a audácia, considerada com um excesso, é enumerada entre os pecados.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. -­ A audácia no lugar aduzido é considerada como moderada pela razão; e, nesse sentido, pertence à virtude da coragem.

RESPOSTA À SEGUNDA. – A ação rápida é louvável, quando precedida do conselho, que é um ato de razão. Mas, não seria digno de louvor e procederia, antes, mal, quem, sem conselho, quisesse agir imediatamente; pois, o seu ato seria precipitado e pecaria por oposto à prudência, como dissemos. Por onde, a audácia, que contribui para a rapidez dos nossos atos, é louvável na medida em que obedece à razão.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Certos vícios, como certas virtudes, não tem denominação própria, conforme vemos no Filósofo. Por isso é necessário aplicar a certas paixões o nome das virtudes e dos vícios. E, sobretudo para designar certos vícios, recorremos às paixões, cujo objeto é mau, como é o caso do ódio, do temor, da ira e também da audácia. Mas a esperança e o amor, tendo como objeto o bem, recorremos a essas paixões para designar os nomes das virtudes.

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