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Art. 7 – Se a imagem de Deus está na alma atualmente.

O sétimo discute–se assim. – Parece que a imagem de Deus não está na alma, atualmente.

1. Pois, diz Agostinho, que o homem foi feito à imagem de Deus, enquanto somos, sabemos que somos, e amamos o nosso ser e o nosso conhecimento. Ora, ser não significa ato. Logo, a imagem de Deus não está na alma, atualmente.

2. Demais. – Agostinho distingue a imagem de Deus na alma, enquanto esta é de tríplice modo, mente, conhecimento e amor. Ora, a mente não exprime o ato, mas antes, a potência, ou também, a essência intelectiva da alma. Logo, a imagem de Deus não se manifesta atualmente.

3. Demais. – Agostinho distingue a imagem da Trindade na alma, quanto à memória, à inteligência e à vontade. Ora, são estas três, virtudes naturais da alma, como diz o Mestre das Sentenças. Logo, a imagem de Deus se manifesta quanto às potências e não quanto aos atos.

4. Demais. – A imagem da Trindade sempre permanece na alma. Ora, o ato não permanece sempre. Logo, a imagem de Deus não se manifesta na alma quanto aos atos.

Mas, em contrário, Agostinho distingue a trindade nas partes inferiores da alma, quanto à visão atual, sensível e imaginária. Logo, também a trindade, que está na mente, segundo a qual o homem é à imagem de Deus, deve ser considerada quanto à visão atual.

SOLUÇÃO. – Como já se disse antes, a essência da imagem implica uma certa representação da espécie. Se pois devemos admitir na alma a imagem da Trindade divina, necessário é que ela seja considerada, principalmente, por onde, tanto quanto possível, mais aproximadamente representa a espécie das divinas Pessoas. Ora, as divinas Pessoas se distinguem pela processão do Verbo, da Pessoa dicente, e pela processão do Amor, que liga as outras duas. Ora, em a nossa alma, o verbo não pode exigir sem a cogitação atual, como diz Agostinho. Por onde, primária e principalmente, a imagem da Trindade está na mente pelos atos, enquanto que, do conhecimento que temos, formamos interiormente, cogitando, o verbo e, daí, prorrompemos no amor. Mas, como os princípios dos atos são os hábitos e as potências, e como o ser está, virtualmente, no seu princípio, a imagem da Trindade pode ser admitida, na alma, secundária e como consequentemente, quanto às potências e, principalmente, quanto aos hábitos, enquanto que, nestes, os atos existem virtualmente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Em o nosso ser está a imagem de Deus, isso nos é próprio, e nos torna superiores aos outros animais; ora, tal nos cabe pela mente. Por onde, esta trindade é idêntica com aquela que Agostinho admite e que consiste na mente, no conhecimento e no amor.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Agostinho distingue essa trindade, primeiro, na mente. Mas a mente embora, de certo modo, se conheça a si mesma, totalmente, também, de certo modo, ignora–se, enquanto, sendo distinta das outras coisas, a si mesma também se busca, como Agostinho consequentemente o prova. Por onde, como o conhecimento não é totalmente adequado à mente, ele admite, na alma, três propriedades da mente, a saber, a memória, a inteligência e a vontade, que ninguém ignora que as possui. E, nessas três, distingue, principalmente, a imagem da Trindade, como sendo a primeira distinção, de certo modo, deficiente.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Como Agostinho o prova, dizemos que inteligimos, queremos ou amamos certas coisas, tanto quando delas cogitamos como quando não cogitamos. Ora, quando essas coisas não são objeto do nosso pensamento, são–no somente da memória, que, segundo o mesmo, não é senão a retenção habitual do conhecimento e do amor. Mas como, segundo ele próprio o diz, o verbo aí não pode estar, sem um pensamento atual, pois, pensamos em tudo o que dizemos, ainda que seja por aquele verbo interior, que não pertence à língua de nenhum povo, é antes por aquelas três potências que a imagem é conhecida, a saber, pela memória, pela inteligência e pela vontade . E chamo agora inteligência o ato mesmo pelo qual inteligimos, quando pensamos ; e vontade, ou amor ou dileção o que une esse pai e que filho, Por onde é claro, que coloca a imagem da divina Trindade antes na inteligência e na vontade atual, do que no modo pelo qual ela existe na retenção habitual da memória; embora também quanto a esse modo, a imagem da Trindade esteja de certa maneira na alma, como no mesmo passo diz. E assim é manifesto que a memória, a inteligência e a vontade não são três virtudes, como se diz nas Sentenças.

RESPOSTA À QUARTA. – Poder–se–ia responder com as palavras de Agostinho: a mente sempre se lembra de si mesma, sempre a si mesma se intelige e ama. O que alguns entendem como significando que a alma tem como que a inteligência atual e o amor de si mesma. Mas esta interpretação Agostinho a exclui acrescentando, que nem sempre ela se pensa como separada das causas diferentes de si. E assim, é claro que, a alma sempre se intelige e ama, não atual, mas habitualmente. Embora se possa dizer que, percebendo o seu ato, intelige–se a si mesma sempre que intelige qualquer objeto. Mas nem sempre inteligindo atualmente, como se dá com quem está adormecido, necessariamente deve concluir–se que os atos, embora não permaneçam sempre, em si mesmos, permanecem, contudo sempre nos seus princípios, isto é, nas potências e nos hábitos. Por onde, diz Agostinho: Se a alma racional foi feita à imagem de Deus afim de poder usar da razão e do intelecto para inteligir e contemplar a Deus, tal imagem existiu, nela desde o princípio em que começou a existir.

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