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Art. 5 — Se os maus sacerdotes têm o uso das chaves.

O quinto discute-se assim. — Parece que os maus sacerdotes não têm o uso das chaves.
 
1. — Pois, como lemos no Evangelho, antes de dar aos apóstolos o uso das chaves, Cristo lhes conferiu o Espírito Santo. Ora, os maus não tem o Espírito Santo. Logo, não tem o uso das chaves.
 
2. Demais. — Nenhum rei sábio comete a um inimigo a dispensação do seu tesouro. Ora, o uso das chaves consiste na dispensação do tesouro do Rei celeste, que é a sabedoria mesma. Logo, os maus, que pelo pecado se lhe tornaram inimigos, não tem o uso das chaves.
 
3. Demais. — Agostinho diz que o sacramento da graça Deus o confere também pelos maus; mas a graça, só por si mesmo ou pelos seus santos; daí o perdoar por si mesmo o pecado, ou pelos membros da Pomba (da Igreja). Ora, o perdão dos pecados é o uso das chaves. Logo, os pecadores, que não são membros da Pomba, não têm o uso das chaves.
 
4. Demais. — A intercessão do mau sacerdote não tem nenhuma eficácia para reconciliar; porque, segundo Gregório, buscar, como intercessor, quem desagrada, é provocar ainda mais a cólera da pessoa ofendida. Ora, o uso das chaves supõe de certo modo a intercessão, como o demonstra a forma da absolvição. Logo, os maus sacerdotes não têm um uso eficaz das chaves.
 
Mas, em contrário. — Ninguém pode saber se outrem está em estado de graça. Se portanto ninguém pudesse usar das chaves para absolver, senão quem estivesse em estado de graça, ninguém poderia saber se foi absolvido; o que é inadmissível.
 
2. Demais. — A iniquidade do ministro não pode anular a liberalidade do senhor. Ora, o sacerdote é só ministro. Logo, não pode com a sua malícia privar-nos do dom que Deus nos faz por ele.
 
SOLUÇÃO. — Assim como participar da forma, que deve ser infundida no efeito, não é o que faz o instrumento; assim, nem a privação dessa forma tem o uso do instrumento. Por onde, agindo o homem apenas como instrumento no uso das chaves, embora esteja privado da graça pelo pecado, pela qual se faz a remissão dele, de nenhum modo porém fica privado do uso das chaves.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — O dom do Espírito Santo é necessário para o uso das chaves; não porque sem ele não possa haver esse uso; mas porque, nessas condições, quem delas usa mal, embora, sujeitando-se a elas, consiga-lhes o efeito.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Um rei terreno pode ser defraudado no seu tesouro e enganado; por isso não lhe confia a dispensação a um inimigo. Mas o Rei celeste não pode ser defraudado. Pois, tudo lhe redunda em honra, mesmo o usar alguém mal das chaves; porque sabe fazer nascer o bem, do mal, e fazer muitos bens mesmo por meio dos maus. Por onde, o símile não colhe.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. - Agostinho se refere à remissão dos pecados, enquanto os varões santos para ela cooperam, não em virtude das chaves mas pelo mérito ex congruo. Por isso diz que mesmo pelos maus Deus confere os sacramentos; e entre os outros sacramentos também a absolvição deve ser computada, ela que é o uso das chaves. Mas, pelos membros da Pomba, isto é, pelos varões santos, obra a remissão dos pecados, pelos remitir por intercessão deles. — Ou podemos dizer que pelos membros da Pomba entende todos os que não estão separados da Igreja. Pois, os que deles recebem os sacramentos alcançam a graça. Não porém os que os recebem dos separados da Igreja, pois, pelo fazerem pecam; exceto o batismo, que em caso de necessidade é lícito receber mesmo de um excomungado.
 
RESPOSTA À QUARTA. — A intercessão, exercida por um sacerdote mau e pela sua pessoa própria, não tem eficácia; tem-na porém o que exerce como ministro da Igreja e pelo mérito de Cristo. Mas, de ambos os modos deve a intercessão do sacerdote ser útil ao povo que lhe está sujeito.

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