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Art. 4 ─ Se podemos licitamente confessar um pecado que não cometemos.

O quarto discute-se assim. Parece que podemos licitamente confessar um pecado que não cometemos.
 
1. Pois, como diz Gregório, é próprio das boas almas reconhecer culpa onde ela não existe. Logo, é próprio das boas almas acusarem-se de culpas que não cometeram.
 
2. Demais. Quem se considera por humildade inferior a um pecador manifesto merece por isso louvores. Ora, o que pensamos em nosso coração é lícito confessarmos oralmente. Logo, pode licitamente confessar que cometeu um pecado mais grave que o que realmente tem.
 
3. Demais. Às vezes duvidamos se um pecado é mortal ou venial. E então, segundo parece, devemos confessá-lo como mortal. Logo, devemos às vezes confessar o pecado que não temos.
 
4. Demais. A satisfação é regulada pela confissão. Ora, podemos satisfazer por um pecado que não cometemos. Logo, também confessar um pecado que não fizemos.
 
Mas, em contrário. ─ Quem diz ter feito o que não fez, mente. Ora, ninguém deve mentir na confissão, porque toda mentira é pecado. Logo, ninguém deve confessar o pecado que não fez.
 
2. Demais. No juízo externo nenhum crime pode ser imputado a ninguém, que não possa ser provado por testemunhas idôneas. Ora, a testemunha, no foro da penitência, é a consciência. Logo, ninguém deve acusar-se de pecado que não tenha na consciência.
 
SOLUÇÃO. Pela confissão deve o penitente manifestar-se ao seu confessor. Ora, quem revela ao sacerdote coisa diversa da que na consciência tem, quer boa quer má, não se lhe manifesta, mas antes se lhe oculta. Logo, a confissão não é idônea; pois, para o ser, há de a boca estar de acordo com o coração, de modo que a boca só acuse o que há no coração.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÂO. De dois modos podemos reconhecer uma culpa onde ela não existe. Primeiro, entendendo-se que esse reconhecimento se refere à substância do ato. E então não é verdadeiro o lugar citado. Pois, não tem boa mente, mas mente errada, quem confesse ter cometido o que não cometeu. De outro modo, quanto à condição do ato. E então é verdadeiro o dito de Gregório, que o justo teme não haja, da sua parte, algum defeito num ato em si mesmo bom. E nesse sentido diz a Escritura: Eu me temia de todas as minhas obras. Por isso é próprio da alma boa que esse temor existente no coração também o acuse a boca.
 
Donde também se deduz a resposta à segunda objeção, Porque o justo e verdadeiramente humilde não se reputa pior por ter praticado um ato que fosse genericamente pior; mas porque teme delinquir mais gravemente, pela soberba, nas boas obras que pratica.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. Quando duvidamos se um pecado é mortal estamos obrigados a confessá-lo, enquanto subsiste a dúvida. Porque quem comete ou omite um ato, do qual duvida se é pecado mortal, peca mortalmente, expondo-se ao perigo. E do mesmo modo a perigo se expõe quem deixa de confessar o de que duvida se é pecado morta1. Não deve porém afirmar que é mortal, mas expô-lo como duvidoso e pedir o juízo do sacerdote, a quem incumbe discernir entre lepra e lepra.
 
RESPOSTA À QUARTA. Quem satisfaz pelo pecado que não cometeu não incorre em mentira, como incorre quem confessou o pecado que não crê haver cometido. Se porém acusar o pecado que não fez, mas que crê ter feito, não mente. E portanto não peca, se falar de acordo com o que lhe vai no coração.

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