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Art. 5 — Se este sacramento é necessário à salvação.

 

O quinto discute-se assim. — Parece que este sacramento não é necessário à salvação.
 
1. — Pois, àquilo da Escritura. - Os que semeiam em lágrimas etc., diz a Glosa: Não andes triste, se tens boa vontade, com que se mede a paz. Ora, a tristeza é da essência da penitência, segundo aquilo do Apóstolo: A tris­teza que é segundo Deus produz para a salvação uma penitência estável. Logo, a boa vontade sem a penitência basta à salvação.
 
2. Demais. — A Escritura diz: A caridade cobre todos os delitos. E a seguir: Os pecados purificam-se pela misericórdia e pela fé. Ora, o fim deste sacramento é só purificar dos pecados. Logo, tendo caridade, fé e misericórdia, podemos alcançar a salvação, mesmo sem o sacramento da penitência.
 
3. Demais. — Os sacramentos da Igreja começaram com a instituição de Cristo. Ora, como lemos no Evangelho, Cristo perdoou a mulher adúltera, sem penitência. Logo, parece não ser a penitência necessária à salvação.
 
Mas, em contrário, o Senhor disse: Se vós outros não fizerdes penitência, todos assim mes­mo haveis de acabar.
 
SOLUÇÃO. — De dois modos pode uma coisa ser necessária à salvação: absoluta e condicio­nalmente. Absolutamente é necessário à salva­ção aquilo sem o que ela não pode ser alcança­da; assim, a graça de Cristo e o sacramento do batismo pelo qual renascemos em Cristo. Con­dicionalmente é necessário o sacramento da penitência; não por certo a todos, mas aos que estão em pecado. Assim, diz a Escritura: E tu, Senhor Deus dos justos, não fizeste a penitência para os justos - Abraão, Isaac e Jacó, nem para os que te não ofenderam. - Ora, o pecado, quando tiver sido consumado, gera a morte, no dizer da Escritura. Logo, é necessário, para a sua salvação, que o pecador seja purificado do pecado. O que não pode ser sem o sacramento da penitência, no qual obra a virtude da paixão de Cristo pela absolvição do sacerdote simultâ­nea com a confissão do pecador, que coopera com a graça para delir o pecado, como o diz Agostinho: Quem te criou sem ti não te justificará sem ti. Por onde é claro que o sacra­mento da penitência é necessário à salvação, de­pois do pecado; assim como o remédio é neces­sário ao corpo de quem caiu em grave doença.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — ­A glosa citada deve ser entendida de quem tem uma boa vontade sem a interpolação causada pelo pecado; pois, essa nenhuma causa tem para tristezas. Mas, quando a boa vontade foi supri­mida pelo pecado, não pode ser restituída sem a tristeza, pela qual nos penitenciamos do pecado passado; o que constitui a matéria da penitência.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — Nem a fé, nem a ca­ridade nem a misericórdia podem, sem a peni­tência, tirar-nos do estado de pecado. Pois, ao seu lado, a caridade exige que nos arrependamos da ofensa cometida contra o amigo, e que em­preguemos estudo em nos reconciliarmos com ele. A fé, por outro lado, requere que, pela vir­tude da paixão de Cristo, que obra nos sacra­mentos da Igreja, nos justifiquemos dos nossos pecados. E por fim também a misericórdia orde­nada pede que reparemos pela penitência a nossa miséria, em que nos precipitou o pecado, segundo aquilo da Escritura: O pecado faz miseráveis os povos. Donde o outro dito da Escritura: Tem piedade com a tua alma, fazendo-te agradável a Deus.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Pela excelência do poder, que só Cristo tinha como dissemos, é que concedeu à mulher adúltera o efeito do sacra­mento da penitência - a remissão dos pecados - sem esse sacramento; embora não sem a pe­nitência interior, que operou nela pela graça.

 

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