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Art. 3 — Se Cristo, tomou e deu aos discípulos, o seu corpo impassível.

O terceiro discute-se assim. — Parece que Cristo tomou e deu aos discípulos o seu corpo impassível.
 
1. — Pois, àquilo do Evangelho — Transfigurou-se perante eles — diz uma glosa: Aquele corpo que tinha por natureza, esse o deu aos dis­cípulos na Ceia, não mortal e passível. E ao outro lugar da Escritura — diz a Glosa: A Cruz, soberanamente forte, tornou capaz de ser comi­da a carne de Cristo, que antes da paixão não o era. Ora, Cristo nos deu o seu corpo capaz de ser comido. Logo, deu-o tal qual o tinha depois da paixão, isto é, impassível e imortal.
 
2. Demais. — Todo corpo passível sofre, sendo tocado e comido. Se, portanto, o corpo de Cristo fosse passível, teria sofrido com o fato de os discípulos terem-no tocado e comido.
 
3. Demais. — As palavras sacramentais não tem então maior virtude quando proferidas pelo sacerdote em nome de Cristo, que quando foram proferidas pelo próprio Cristo. Ora, o sacerdote, em virtude das palavras sacramentais, consagra no altar o corpo de Cristo impassível e imortal. Logo, com maior razão o fez Cristo.
 
Mas, em contrário como diz Inocêncio III, então deu aos discípulos um corpo tal qual tinha. Ora, tinha então um corpo passível e mortal. Logo, foi um corpo passível e mortal que deu aos discípulos.
 
SOLUÇÃO. — Hugo Victorino (Inocenc. III), afirmou, que Cristo, antes da paixão e em diver­sas ocasiões, assumiu quatro dotes do corpo glo­rificado, a saber: a subtileza, na natividade, quando saiu do ventre virginal de Maria; a agi­lidade, quando andou sobre o mar, sem molhar os pés; a claridade, na transfiguração; a impas­sibilidade, na Ceia, quando deu o seu corpo a comer aos discípulos. E, sendo assim, deu aos discípulos o seu corpo impassível e imortal. Mas, seja o que for que se deva pensar dos outros dotes, a cujo respeito já nos pronunciamos, sobre a impassibilidade porém é inadmissí­vel a opinião de Hugo. Pois, como é manifesto, era o mesmo verdadeiro corpo de Cristo que os discípulos viam então na sua forma própria e tomaram na espécie sacramental. Mas, na sua forma própria, em que era assim visto, não era impassível; ao contrário, estava preparado para a paixão. Por onde, também o corpo de Cristo, dado sob a forma de sacramento, não era im­passível. Mas estava de modo impassível, sob a espé­cie do sacramento, o que em si havia de passível. Pois, assim como a visão requere o contato do corpo visto, pelo meio atmosférico, assim, a pai­xão requere o contato do corpo paciente com o agente que nele produz a paixão. Ora, o corpo de Cristo, do modo por que está neste sacramen­to, não se relaciona com as coisas que o circun­dam, mediante as suas dimensões próprias, pelas quais os corpos se tocam — como dissemos; mas mediante as dimensões das espécies do pão e do vinho. Por onde, são essas espécies as pacientes e as que são vistas, mas não o corpo mesmo de Cristo.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Diz-se que Cristo, na Ceia, não deu o seu corpo mortal e passível, pelo não haver dado de modo mortal e passível. Mas a cruz tornou o corpo de Cristo capaz de ser comido, enquanto este sacra­mento representa a paixão de Cristo.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. — A objeção colheria se o corpo de Cristo, assim como era passível, assim também estivesse neste sacramento de maneira passível.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como dissemos, os acidentes do corpo de Cristo estão no sacramento por concomitância real; não porém em virtude do sacramento, pela qual nele está a substância do corpo de Cristo. Por onde, a virtude das pa­lavras sacramentais faz com que esteja sob o sa­cramento o corpo de Cristo, a saber, com todos os acidentes realmente nele existentes.

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