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LEÓN BLOY

"O que admiramos em Bloy é a estrutura gótica de sua alma, o ardor incondicional de sua fé, e, de certo modo, o motivo mesmo que o leva ao univocismo na compreensão do fenômeno histórico. O que nele admiramos, a par da grandeza de escritor que nem sempre tinha razão contra Rafael, Bossuet, ou contra seu diletíssimo amigo Roualt, é a perfeita fidelidade à Dama Pobreza, que fez dele um genuíno descendente de S. Francisco de Assis."
("Respondendo a uma Provocação", A Ordem, Dezembro de 1947)
 
"Léon Bloy testemunhou, e nos fez sentir como ninguém, a invisível presença dos eleitos, o acotovelar dos anjos, o hálito dos vivos e dos mortos. Muitas noites passava a chorar com as almas do purgatório; e muitos dias passava a esperar as notícias distantes dos invisíveis próximos. Sentia a comunhão dos santos como a aranha sente a teia, como o pássaro sente a brisa, como o ouvido de mãe mal adormecida sente os mil rumores de uma casa cheia de filhos, que se agitam, que ressonam, que estremecem... Sentia os passos dos santos como se o chão da eternidade fosse a pele de um tambor.
 
"A Igreja de Deus é verdadeiramente um corpo, aquecido por um sangue e animado por um espírito: as partes se comunicam, se encontram, e muitas vezes se chocam. O Universo não é tão grande como o pintam os astrônomos: é antes uma nave de catedral onde o humilde cochilo de um penitente ressoa em cada nicho e interessa cada alma." 
("Léon Bloy", in Dez Anos) 
 
LIVROS
"Ora, o que eu quero dizer (...) é que existem obras, em arte e filosofia, desprovidas desse interesse profundo e vital, obras que não tratam do homem, que não lhe concernem, e que, nem ao menos para o destruir, procuram atingi-lo. E é nesse ponto, nessa falta de contato, a meu ver, que se localiza a mediocridade. Não são as blasfêmias — nessa ordem de idéias — que excluem a obra de Nietzsche do campo onde os homens se golpeiam ou se abraçam (...) O que imprime à sua obra um sinal de irremediável ridículo são os atentados ao homem em nome do super-homem. O ateísmo dos marxistas não é também, nesse ponto de vista, a mancha mais repulsiva dos seus tratados, mas o atentado contra o homem em nome do sub-homem. Ambos são ridículos porque, sendo o mundo redondo, o super e o sub se tornam relativos e muitas vezes se confundem."
(O Falso e o Genuíno, in Três Alqueires e uma Vaca)
 
LOUCURA
"Há uma divina loucura, que vem do alto, que libera, que eleva o homem acima dos níveis em que estão instaladas as coisas rotineiras, as verdades superficiais e elementares, uma loucura que é feita de asas e de horizontes insuspeitados, que se chama inspiração, que dilata a alma, que dita aos homens os segredos de Deus; e há uma outra loucura, que prende à carne o espírito, que reduz os horizontes às medidas da obsessão e que, segundo o genial paradoxo de Chesterton, consiste na perda de tudo, exceto da razão. Materialmente semelhantes, pela quebra de padrões usuais, pela extravagância dos resultados, pela fuga ao nível dos valores consagrados, os dois casos estão realmente nos pólos opostos da vida da inteligência. Ou melhor: opõem-se como a vida se opõe à morte. Poderíamos ainda lembrar que há uma outra espécie de loucura "from above" e de delírio verdadeiramente divino: é aquela que se traduziu numa descida de Deus, e que em nós atua como força de sobrenatural subida, e como apetite de cruz. Por causa dela estamos sempre em tensão neste mundo. Não há fórmula de repouso ou de cura, não há receita de relaxing que possa resolver as trágicas equações de nossa vida. Em regra geral, no comum dos casos, que a filosofia da mediocridade chama de normal, vivem os homens o cuidadoso equilíbrio ao rés-do-chão. Têm medo das energias internas que pedem superação, e agarram-se aos preconceitos e às fórmulas da pacata existência. E é por isso, precisamente por iso, por causa da parcimônia espiritual, por causa do medo da divina loucura, por apego ao equilíbrio da carne, que ficam doidos da doidice que pede choque elétrico e camisa-de-força. A loucura do alto é o melhor antídoto para a sandice inferior.
 
"Se o mundo tivesse mais santos, se se entregasse com mais generosidade aos vôos líricos dos poetas, se cultivasse com mais amor o delírio que está num quinteto de Mozart ou num poema de Camões, haveria mais vagas nas casas de repouso. Nós andamos na vida com dois doidos por dentro, um a nos ditar obsessões, outro a nos propor um vôo. Voemos. Libertemos o doido que nos libertará. Cantemos com os cantores, e sobretudo aceitemos o divino convite que nos torna divinos."
("Na mesma língua em que chorou Camões", in O Desconcerto do Mundo)
 
LUCRO
"O lucro é o índice de racionalização do empreendimento. Se você me apresenta um balanço de um negócio sem lucro eu tratarei de dizer que está errado, que é preciso aumentar a produtividade ou diminuir as despesas supérfluas; mas se você alegremente me mostra os déficits monstruosos como os da Central do Brasil e tantos outros, alegando que estas empresas não precisam dar lucro, por serem cobertas pelos cofres públicos e pela indeterminada elasticidade do cinto do brasileiro, eu tentarei, com boas palavras, encaminhá-lo para uma clínica psiquiátrica"
(O Globo, "Sobre o Lucro", 13-2-69)
 
"Como todos sabemos, na Idade Média o apetite de lucro comercial foi sempre visto com suspeição, mas, notem bem, era a preocupaçao de defender o homem contra a ilimitada concupiscência que colocava este conceito na cadeira dos réus sob acusação de Justiça e Temperança"
(O Globo, "Sobre o Lucro", 13-2-69)

 

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