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Art. 2 — Se os frutos diferem das bemaventuranças.

(Ad Galat., cap. V, lect. VI; In Isaiam, cap. XI).
 
O segundo discute-se assim. — Parece que os frutos não diferem das bem-aventuranças.
 
1. — As bem-aventuranças se atribuem aos dons, como já se disse1. Ora, os dons aperfeiçoam o homem, movido pelo Espírito Santo. Logo, as próprias bem-aventuranças são frutos do Espírito Santo.
 
2. Demais. — O fruto da vida eterna está para a bem-aventurança futura, que é a da posse, assim como o da vida presente para as bem-aventuranças da vida atual, que são esperadas. Ora, o fruto da vida eterna é a mesma bem-aventurança futura. Logo, os da vida presente são as bem-aventuranças mesmas.
 
3. Demais. — É da essência do fruto ser algo de último e deleitável. Ora, isto é também da essência da bem-aventurança, como já se disse2. Logo, fruto e bem-aventurança têm a mesma essência, e portanto não devem ser distintos entre si.
 
Mas, em contrário. — Onde há espécies diversas há sujeitos diversos. Ora, os frutos e as bemaventuranças dividem-se em partes diversas, como a enumeração daqueles e destes claramente o mostra. Logo, os frutos diferem das bemaventuranças.
 
SOLUÇÃO. — A noção de bem-aventurança tem compreensão maior que a de fruto. Pois, para a deste basta que venha por último e seja deleitável; ao passo que aquela exige, ulteriormente, a perfeição e a excelência. Por onde, todas as bem-aventuranças podem ser consideradas frutos, mas não inversamente. Assim, são frutos todas as obras virtuosas com que nos deleitamos; ao passo que são bem-aventuranças só as obras perfeitas que também, em razão mesma da sua perfeição, se atribuem mais aos dons que às virtudes, como já se disse3.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — A objeção prova que as bem-aventuranças são frutos, não porém que todos os frutos sejam bem-aventuranças.
 
Resposta à segunda. — O fruto da vida eterna é último e perfeito, absolutamente, e portanto em nada se distingue da futura bem-aventurança. Os frutos da vida presente, porém, não são últimos e perfeitos, absolutamente; e portanto, nem todos os frutos são bem-aventuranças.
 
Resposta à terceira. — A bem-aventurança tem, por essência, algo mais que a essência do fruto, como se disse.

  1. 1. Q. 69, a. 3, ad 1.
  2. 2. Q. 3, a. 1; q. 4, a. 1.
  3. 3. Q. 69, a. 1 ad 1.
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