Skip to content

Art. 1 — Se a virtude existe na potência da alma como sujeito.

(III Sent., dist. XXXIII, q. 1, a. 4, qª 1; De Virtut., q. 1 a. 3).
 
O primeiro discute-se assim. Parece que a virtude não existe na potência da alma como sujeito.
 
1. — Pois, diz Agostinho, que a virtude é que nos leva a viver retamente1. Ora, nós não vivemos pela potência da alma, mas pela sua essência. Logo, a virtude tem sua sede nesta e não naquela.
 
2. Demais. — O Filósofo diz: a virtude torna bom tanto quem a possui, como as suas obras2. Ora, como a obra é realizada pela potência, assim o virtuoso o é pela essência da alma. Logo, a virtude não reside antes na potência que na essência da alma.
 
3. Demais. — A potência pertence à segunda espécie de qualidade. Ora, a virtude é uma qualidade, como já se disse3. E como não pode haver qualidade de qualidade, a virtude não pode existir na potência da alma, como sujeito.
 
Mas, em contrário. — A virtude é o que, na potência, é último, como se disse4. Ora, o que em alguma coisa é último nessa existe. Logo, a virtude existe na potência da alma.
 
SOLUÇÃO. — Por três razões pode-se tornar manifesto que a virtude pertence à potência da alma. A primeira se funda na essência mesma da virtude, que implica a perfeição da potência; ora, a perfeição existe naquilo a que pertence. A segunda, naquilo mesmo que constitui um hábito operativo, como já dissemos5. Ora, toda operação procede da alma mediante alguma potência. A terceira, na disposição para o que é ótimo; ora, este é o fim que é, ou uma operação do ser, ou algo consecutivo à operação procedente da potência. Por onde, a virtude humana existe na potência da alma como sujeito.
 
Donde a resposta à primeira objeção.  — O termo — viver pode ser tomado em duplo sentido. Às vezes significa o ser mesmo que vive, e assim, pertence à essência da alma, que é, para o vivente, o princípio do existir. Outras vezes viver significa a operação do ser vivo, e assim vivemos retamente pela virtude, enquanto que por ela obramos retamente.
 
Resposta à segunda. — O bem ou é o fim ou é considerado como ordenado para o fim. Logo, como o bem do operador consiste na operação, esse mesmo efeito da virtude, que é tornar bom o operador, é relativo à operação, e por conseqüente à potência.
 
Resposta à terceira. — Quando se diz que um acidente existe em outro como num sujeito isto não significa que um, por si mesmo, pode sustentar outro, mas que um existe na substância mediante outro; assim, a cor existe no corpo mediante a superfície, e por isso dizemos que esta é o sujeito da cor. E desse mesmo modo, dizemos que a potência da alma é sujeito da virtude.

  1. 1. II lib. De libero arbit. (cap. XIX).
  2. 2. II Ethic., lect. IV.
  3. 3. Q. 55 a. 4.
  4. 4. I De caelo, lect. XXV.
  5. 5. Q. 55, a. 2.
AdaptiveThemes