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Art. 5 — Se os males insólitos e os repentinos sejam mais de se temerem.

O quinto discute-se assim. — Parece que os males insólitos e repentinos não são mais de se temerem.
 
1. — Pois, assim como a esperança é relativa ao bem, assim o temor o é ao mal. Ora, a experiência concorre para o aumento da esperança, no bem. Logo, também no mal concorre para o aumento do temor.
 
2. Demais — O Filósofo diz, que os mais temidos não são os da ira arrebatada, mas os brandos e os astutos1. Ora, como se sabe, os primeiros são mais levados por movimentos súbitos. Logo, as coisas súbitas são menos temíveis.
 
3. Demais — O que é súbito mais dificilmente é objeto de reflexão. Ora, quanto mais refletimos em certas coisas tanto mais as tememos; e, por isso, diz o Filósofo, que alguns parecem fortes por causa da ignorância; mas, quando sabem que as coisas não são como lhes parecem, fogem2. Logo, o repentino é menos temido.
 
Mas, em contrário, diz Agostinho: O temor, ao passo que vela pela sua segurança, tem horror ao insólito e repentino, oposto às coisas que ama3.
 
Solução. — Como já dissemos4, o objeto do temor, é o mal iminente, que não pode ser facilmente repelido. E, isto pode dar-se por duas causas: pela grandeza do mal ou pela debilidade de quem teme. Ora, o insólito e repentino influi em ambos os casos. Primeiro, influi para o mal iminente parecer maior. Pois, quanto mais refletimos nas coisas corpóreas, tanto boas como más, tanto menores elas nos parecem. Por onde, assim como a diuturnidade mitiga a dor do mal presente, como se lê em Túlio, assim, a reflexão prévia diminui o temor do mal futuro5. Em segundo lugar, o insólito e repentino concorre para a fraqueza de quem teme, pelo privar dos meios a que pode recorrer para repelir o mal futuro, que de nada podem servir quando o mal ocorre de improviso.
 
Donde a resposta à primeira objeção. — É bom o objeto da esperança, que podemos alcançar. Por onde, o que aumenta o nosso poder aumenta naturalmente a esperança; e pela mesma razão diminui o temor, porque este é relativo ao mal a que não podemos facilmente resistir. Ora, a experiência tornando o homem mais forte para agir, assim como aumenta a esperança, diminui o temor.
 
Resposta à segunda. — Os que de ira arrebatada não a ocultam; e por isso os males que podem causar não são de tal modo repentinos, que não possam ser previstos. Ao passo, que os brandos e astutos dissimulam a ira; por isso os males com que ameaçam, não podendo ser previstos, atacam de improviso. Donde a dizer o Filósofo que esses são os mais temidos.
 
Resposta à terceira. — Em si mesmos considerados, os bens ou os males corpóreos parecem maiores, no princípio. E a razão é que um contrário parece maior quando comparado com o outro. Assim, quem passa repentinamente da pobreza para as riquezas, mais as estima por comparação com a pobreza passada; e inversamente, os ricos caídos repentinamente na pobreza maior horror têm desta. Por isto, mais tememos o mal repentino, por nos parecerem maiores. Pode porém acontecer, acidentalmente, que não se manifeste a grandeza do mal; assim p. ex., quando os inimigos se ocultam insidiosamente. E então é verdade que o mal, atentamente considerado, se torna mais terrível.

  1. 1. II Rhetoric. (cap. V).
  2. 2. III Ethic. (lect. XVII).
  3. 3. II Confess. (cap. VI).
  4. 4. Q. 42, a. 3; q. 41, a. 2.
  5. 5. III De tuscul. Quaestion. (cap. XXX).
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