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Art. 4 ― Se o prazer é a medida ou a regra do bem e do mal.

(IV Sent., dist. XLIX, q. 3, a. 4, qa. 3, ad 1).
 
O quarto discute-se assim. ― Parece que o prazer não é a medida ou regra do bem e do mal moral.
 
1. ― Pois, como diz Aristóteles, todas as coisas se medem pela primeira no gênero1. Ora, o prazer não está em primeiro lugar no gênero da moralidade, mas o precedem o amor e o desejo. Logo, não é a regra da bondade e da malícia moral.
 
2. Demais. ― A medida e a regra devem ser uniformes, e por isso o movimento uniforme por excelência é a medida e a regra de todos os outros movimentos, como dia Aristóteles2. Ora, o prazer é vário e multiforme, pois uns são bons e outros maus. Logo, não é a medida e a regra da moralidade.
 
3. Demais. ― Julgamos mais certamente do efeito pela causa do que inversamente. Ora, a bondade ou a malícia da ação é causa da bondade ou malícia do prazer, porque bons são os prazeres consecutivos às boas ações; maus os consecutivos às más, como diz Aristóteles3. Logo, os prazeres não são a regra e a medida da bondade e da malícia moral.
 
Mas, em contrário, diz Agostinho, a propósito de um salmo ― ó Deus, que sondas os corações e as entranhas: O fim dos cuidados e dos pensamentos é o prazer, a que todos nos esforçamos por chegar. E o Filósofo diz, que o prazer é um fim arquitetônico, i. é., principal, relativamente ao qual julgamos que tal ação é boa e tal outra má, absolutamente4.
 
SOLUÇÃO. ― A bondade e a malícia moral consiste principalmente na vontade, como já dissemos5. E pelo fim conhecemos se esta é boa ou má. Ora, consideramos como fim aquilo no que a vontade descansa; e o descanso da vontade ou de qualquer apetite no bem é o prazer. Por onde, pelo prazer da vontade humana principalmente julgamos se um homem é bom ou mau: bom e virtuoso é o que se compraz nas obras das virtudes; mau, o que se compraz nas obras más.
 
Os prazeres do apetite sensitivo porém não são a regra da bondade nem da malícia; assim, a comida é deleitável em geral para o apetite sensitivo tanto do bom como do mau. Mas a vontade dos bons com ela se deleita conforme a conveniência da razão, da qual não cura a vontade dos maus.
 
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ― O amor e o desejo têm prioridade sobre o prazer, na via da geração. O prazer porém é anterior se considerarmos a idéia de fim, pois este exerce a função de princípio, relativamente às ações; ora, por este princípio, como regra ou medida, sobretudo julgamos.
 
RESPOSTA À SEGUNDA. ― Todos os prazeres são uniformes no serem o repouso em algum bem; e assim podem servir de regra ou medida. Assim, bom é aquele cuja vontade repousa no verdadeiro bem; mau pelo contrário aquele cuja vontade descansa no mal.
 
RESPOSTA À TERCEIRA. ― O prazer aperfeiçoando, como fim, a operação, como já dissemos6, não pode ser perfeitamente boa uma operação sem ser acompanhada do prazer fundado no bem, pois a bondade de uma ação depende do fim. E assim, de certo modo, a bondade do prazer é a causa da bondade da operação.

  1. 1. X Metaph., lect. II.
  2. 2. X Metaph., lect. II.
  3. 3. X Ethic., lect. VIII.
  4. 4. VII Ethic., lect. XI.
  5. 5. Q. 20, a. 1.
  6. 6. Q. 33, a. 4.
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