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Art. 1 ― Se a bondade da vontade depende do seu objeto.

O primeiro discute-se assim. ― Parece que a bondade da vontade não depende do seu objeto.
 
1. ― Pois, a vontade só pode querer o bem, porquanto, o mal lhe é contrário, como diz Dionísio1. Se portanto a bondade da vontade dependesse do seu objeto, resultaria que toda vontade seria boa e má, nenhuma.
 
2. Demais. ― O bem principal é do fim; e por isso a bondade deste, como tal, não depende de nada. Ora, segundo o Filósofo, a ação boa é um fim, embora a produção nunca o seja2 porque sempre se ordena, à coisa produzida, como ao fim. Logo, a bondade da vontade não depende de nenhum objeto.
 
3. Demais. ― Qual é um ser tal é o que produz. Ora, o objeto da vontade é bom pela sua bondade natural. Logo, não pode ele conferir-lhe a ela uma bondade moral; e portanto esta, quando concernente à vontade, não depende do objeto.
 
Mas, em contrário, diz o Filósofo3, que a justiça é que leva certos a quererem ações justas; e pela mesma razão, pela virtude é que querem o bem. Ora, boa é a vontade que opera virtuosamente. Logo a bondade da vontade provém de querer o bem.
 
Solução. ― O bem e o mal, em si, diferenciam os atos da vontade, à qual se referem, assim como o verdadeiro e o falso se referem à razão cujos atos distingue a diferença existente entre a verdade e a falsidade, que nos leva a considerar uma opinião como verdadeira ou falsa. Por onde, a vontade boa e a má são atos especificamente diferentes. Ora, a diferença específica dos atos depende dos objetos, como já se disse4. Logo, o bem e o mal dos atos da vontade dependem propriamente dos objetos.
 
Donde a resposta à primeira objeção. ― Longe de sempre querer o verdadeiro bem, a vontade quer às vezes um bem aparente, bem, certo, de algum modo, mas que não convém, absolutamente ao apetite. E por isso o ato da vontade, nem sempre bom, é às vezes, mau.
 
Resposta à segunda. ― Embora um ato possa de certo modo ser o fim último do homem, nem por isso é ato da vontade, como já se disse antes5.
 
Resposta à terceira. ― O bem é apresentado à vontade pela razão como objeto; e na medida em que entra na ordem da razão, pertence à ordem moral e causa, no ato da vontade, a bondade moral. Pois a razão é o princípio dos atos humanos e morais, como antes se disse6.

  1. 1. IV cap. De div. Nom., lect. XXII.
  2. 2. VI Ethic., lect. IV.
  3. 3. V Ethic., lect. I.
  4. 4. Q. 18, a. 5.
  5. 5. Q. 1, a. 1 ad 2.
  6. 6. Q. 18, a. 5.
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