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Pensamento (142)

Os escravos da imaginação

Dom Lourenço Fleichman OSB

 

Uma oposição sistemática entre o mundo e a Igreja, entre a sociedade civil apóstata e a família católica: realidade mais do que conhecida, denunciada e lamentada. Todos nós sabemos disso e procuramos nos orientar de modo a não perder a fé, a não nos entregarmos aos prazeres e aos critérios desse mundo mau. Temos, sim, os Evangelhos e São Paulo que já nos alertavam e nos alertam ainda hoje, pela Revelação das Sagradas Escrituras. Temos a Igreja, com sua palavra forte, sua Tradição, seu depósito da fé, transmitindo, de papa a papa, de concílio a concílio, os conselhos e mandamentos que devemos seguir para não cair no abismo. E os padres lembram, em sermões e artigos, que devemos viver no mundo sem ser do mundo, que devemos estudar, nos armar contra a enganação do mundo, defender as crianças contra as escolas deformadoras, a televisão invasora e destruidora da moral católica.

Tudo isso nós sabemos e por isso devemos estar atentos e fortalecidos pela graça.
Mas não adiantou muito! Leia mais
 

O bramido do mar, uma manchete de jornal

Haverá consternação dos povos pelo bramido do mar e das ondas, mirrando-se os homens de susto na expectativa do que virá sobre o mundo, porque as forças dos céus se abalarão”. S. Lucas, 21,25 - 1º domingo do Advento
 
Não é com trombetas e cânticos de alegria que abrimos este ano, mas com a lembrança apertada da ira de Deus que se abate sobre a terra para mostrar aos homens que só Ele é o Senhor. Alguns podem contestar a idéia de que seja um castigo divino a tragédia da Ásia, mas não podem esconder que pelo menos 50% de chances existem para que o seja. Eu, de minha parte, espero sinceramente que assim seja, e estou convencido disso, pois os desígnios de Deus são sempre sábios e visam a salvação do maior número possível de homens. Prefiro a idéia de Deus castigando a humanidade que, aqui para nós, abusa há muitos séculos da capacidade de pecar, do que de uma simples permissão divina, anódina e sem conseqüências para a salvação tão esperada no céu. Se é para que muitos se convertam, que venham as ondas, os raios, o fogo, que caiam do céu os meteoritos, os satélites, que calem os telefones, internets e globalizações para que os homens descubram que são pó e ao pó hão de voltar. Leia mais
 

O mundo está pronto

Se viver mergulhado no mundo não leva ninguém para o inferno, pergunto: porque a porta do céu é tão estreita? Porque N. Senhor insiste com essa idéia, ao dizer que é mais fácil um camelo entrar no fundo de uma agulha do que um rico entrar no céu? É claro que não se trata aqui, apenas de um homem que possui muitos bens. Rico é aquele apegado às coisas, aos bens materiais, ao conforto, ao mundo. Um homem que centraliza sua vida nas coisas desse mundo. Fica, de fato, quase impossível entrar no céu carregado de tantos apegos, vaidades, orgulhos e vícios.

Do seu lado, os santos insistem sempre: levem uma vida piedosa; o católico deve guardar sua vista, seus sentidos para evitar todo pecado; vivam com modéstia, na castidade.

Não é bem esta a prática atual, onde os católicos não diferem em nada dos mundanos. Assistem aos mesmos programas de televisão, freqüentam os mesmos shows, as mesmas festas; gastam seu dinheiro no mesmo comércio anunciado pela mídia: Natal com Papai Noel, Páscoa com ovos e coelhinhos, e essa gama impressionante de festas inventadas para ocupar o lugar das tradicionais festas religiosas e dos santos: dia das mães, dia dos pais, dia dos namorados, dia da criança, dia do zumbi, dia do black power, dia das bruxas...  Quando acabaram com os feriados nos dias santos de guarda, diziam que atrapalhava o trabalho. Como mentem! Mentem e manipulam as cabeças de todos, mesmo daqueles que lêem jornais cults todos os dias e compram o "Código da Vinci". Grandes culturas! São porquinhos mansos indo pelo curral em direção à morte. E não percebem nada.
 
Naquele tempo se praticava virtudes
 
Houve época em que o mundo se pautava pela prática das virtudes. Que o homem fosse católico ou não, o critério de sua vida seria o mesmo: cada qual trabalhava para ser reconhecido pela sociedade como pessoa honesta, honrada, homem de palavra, fiel. Virtudes como a coragem, a castidade, a piedade estava na pauta do dia. Se era católico, praticava essas virtudes voltadas para a vida eterna, virtudes sobrenaturais. Se não era católico, praticava essas mesmas virtudes sem a marca divina, eram as virtudes naturais. Não diferem em si das primeiras, apenas nessa qualidade divina que dá à virtude sobrenatural uma nova força, vinda de Deus, que conduz o homem ao seu fim último, em Deus. Que ele fosse um médico ou um jurista, soldado ou quitandeiro, dono de terras ou colono, todos se gabavam de dar a seus filhos a boa educação, de corrigir seus filhos malcriados, de ensinar aos filhos a prática das virtudes. Qual o pai que não se orgulhava de ver sua filha prendada tomar bom marido, recomeçando assim o ciclo virtuoso da família decente? Não eram santos, por certo. Mas quando pecavam ficavam com a consciência culpada diante de Deus e tinham medo de serem mal-vistos na sociedade.

O drama que estamos vivendo vem do fato de que o mundo atual não se pauta por estes critérios de vida. Homens "iluminados" introduziram um novo eixo no pensamento da humanidade. Este novo eixo levou Gustavo Corção a entender o mundo moderno como "antropo-excêntrico", ou seja, um mundo que trocou o seu eixo1.
 
Hoje se pratica a liberdade
 
O pólo desarticulador do mundo veio da falsificação da liberdade. A prática da virtude passou a ser vista como obstáculo à liberdade. No pensamento greco-católico, a liberdade é uma faculdade do espírito inteligente que o faz mover-se para o bem por um movimento interior da própria pessoa, e não empurrada por alguma outra força. Ora, só existe verdadeira liberdade quando nos inclinamos para o bem. Quando os homens passam a ensinar que a inclinação para o mal também é válida, estabelecem as bases para uma nova civilização: o mundo sem Deus, o mundo sem virtudes, sem piedade.

O resultado é catastrófico. Nada ficou de pé na nova civilização. Não somente a Igreja Católica foi alijada de qualquer influência no pensamento moderno2, como a simples prática das virtudes naturais perdeu qualquer respaldo. Se perguntarmos como vivem os homens deste nosso século, logo teremos uma lista das novas atitudes:

- o reino do sexo  livre, sem qualquer tipo de limite tanto pela natureza quanto pela cultura. Forma-se uma pressão sobre todos para que se acostumem a romper com os limites da própria consciência. Esta pressão vem pelos programas de televisão, pelos filmes, pela presença constante diante dos olhos, de imagens sensuais espalhadas pelas cidades. É um dado positivo (no sentido de afirmativo) que vem somar a uma impressionante propaganda negativa que há décadas faz uma verdadeira lavagem cerebral, convencendo a todos que a castidade seria uma doença.

- o reino do erro livre, onde todos têm razão e ninguém é dono da verdade porque expulsaram a verdade. Expulsaram das suas vidas a autoridade divina, pois todas as religiões passam a se valer; expulsaram a autoridade paterna, pois um pai não pode mais corrigir seu filho, educá-lo na prática das virtudes condenando seus erros. O mundo onde cada qual constrói sua própria verdade é um mundo esquizofrênico. Como a inteligência humana se alimenta da verdade dos objetos que conhece, entra em colapso quando é forçada a criar verdades de dentro para fora, sua própria consciência passando a dar vida às coisas, o que é propriamente “tornar-se como deuses”.3

- o reino da desonestidade livre, pois é evidente que não cabe no mundo tantas verdades individuais opondo-se umas às outras. Por isso o colapso da verdade gera o ódio, a guerra, inimizades. Não pensem que algum tipo de governo ou de partido poderá escapar da corrupção. Ela é endêmica, faz parte essencial da vida onde a liberdade é deusa. Lá onde a verdade movia os homens ao amor, temos hoje o erro movendo os homens ao ódio. Na política como dentro das empresas, nas famílias como no mundo jurídico.

- o reino da infidelidade livre, pois a falsa noção de verdade e o falso amor geram uma relação social evolutiva, chacoalhante, em constante movimento. Nada fica de pé, nada tem aparência de duração, de solidez, de eternidade. Neste mundo não há lugar para a família. Por isso podemos dizer que o Divórcio foi a bomba de retardo lançada no mundo todo, que detonou a seu tempo sobre os alicerces da família, base da antiga sociedade.

Tudo isso está invadindo as casas há mais de cinqüenta anos, sem que os católicos reajam. O liberalismo já tinha minado as bases da família. Poderíamos dizer que o liberalismo fez o trabalho de sapa e a liberdade enlouquecida fez o trabalho de restauração da casa destruída, com novas bases. O pior de tudo não é o mundo ser assim; o pior é ver os católicos vivendo no meio disto sem enxergar; cegos, surdos, sem forças, marionetes burrificadas por cinqüenta anos de estupidez televisiva.

Na formação deste impressionante “Reino” do mal, algumas armas foram usadas de modo mais constante:

- a imagem, essa rainha da falsidade que escraviza a nossa imaginação, marca, fere, choca, tirando dela toda reação possível.

- o som, que trouxe ao mundo vários tipos de música que simplesmente destrói na alma qualquer capacidade de raciocínio, de concentração.

- a ocupação, escravizando o homem numa avalanche de preocupações, de trabalhos, de excitações que o obriga a estar 24 horas por dia "ligado" na coisa material. Ao mesmo tempo, através de décadas de mentiras, arrancaram a mulher do seu trabalho materno, do seu lar, onde sua presença era a maior garantia da boa educação dos filhos.

- a diversão, que vem preencher o resto de tempo que os pobre-coitados ainda poderiam dispor: agora é hora de malhar, de correr, de praticar esportes cada dia mais exigentes. E tem o show alucinante, a festa que termina pela manhã, a praia, a viagem, o carnaval.

Pobre gente. Já não conseguem entender as coisas mais banais. Já não percebem que os frutos dessa nova civilização já estão estabelecidos como práticas consagradas:

- o aborto que mata a criança inocente, contraponto dos famigerados "estatutos" da criança que protege o marginal de baixa idade.

- a eutanásia, que é o aborto dos velhos, tão indesejados pelo "custo" quanto os filhos. Temos como exemplo gritante desta prática o assassinato de Terri Schiavo no início de 2005, executada pela fome e pela sede com carimbos dos juizes e da polícia.

- o casamento homossexual, que choca a natureza, contraponto das vantagens que a lei outorga aos concubinatos. Chegamos ao ponto mais baixo na destruição da sociedade.

- vários detalhes da chamada bio-(sem)ética, onde homens levam o delírio até experimentos com genética humana, verdadeiros alucinados brincando de Deus. Seria o caso de perguntarmos: porque querem matar as crianças inocentes e, ao mesmo tempo, gerar artificialmente seres humanos? Não podemos deixar de incluir aqui a aberração dos embriões congelados que ninguém quer, seres humanos que sofrem sem piedade e que serão destruídos cruelmente.

Em todos esses exemplos a família aparece destruída. Já não é mais a base da sociedade. Os homens que construíram isto que está aí detestam a família, odeiam qualquer cheiro de tradição familiar, de fidelidade conjugal, de casa cheia de crianças.

Ora, se esses são os critérios e as práticas da nova civilização anti-cristã, então somos obrigados a constatar: o mundo está pronto para o Anti-Cristo!
 
O mundo  está pronto para o Anti-Cristo
 
Sempre me pareceu impressionante a facilidade com que a humanidade segue apaixonadamente o Anti-Cristo, que é uma das bestas, no relato divino do Apocalipse.4 Dizia-me: como pode ser que os homens se entreguem a uma vida completamente enganadora e destruidora de tudo? Hoje ficou mais claro para mim. E muito me impressionou ao encontrar no Pe. Castellani, grande pensador argentino, uma descrição feita em 1953 disso tudo que só hoje estamos vivendo:

“... porque o Homem do Pecado tolerará e se aproveitará de um cristianismo adulterado...Imporá por todas as partes o reino da iniqüidade e da mentira, o governo puramente exterior e tirânico, a “Liberdade” desenfreada dos prazeres e diversões, a exploração do homem; e seu modo de proceder hipócrita e sem misericórdia. Haverá em seu Reino uma estrondosa alegria falsa e exterior, cobrindo o mais profundo desespero.
Em seu tempo acontecerão os mais estranhos distúrbios cósmicos, como se os elementos se houvessem revoltado. A humanidade estará numa grande expectativa e reinará grande confusão e dissipação entre os homens. Rompidos os laços de família, de amizade, de lealdade e bom relacionamento, os homens não poderão confiar em ninguém, e correrá no mundo como um tremor frio, um universal e ímpio “salve-se quem puder”. Será atropelado o que há de mais sagrado e nenhuma palavra terá mais fé, nem pacto algum terá vigor, senão pela força. A caridade heróica de alguns fiéis, transformada em amizade até a morte, manterá no mundo ilhotas de fé; porém mesmo ali, ela estará continuamente ameaçada pela traição e pela espionagem. Ser virtuoso será um castigo em si mesmo e como uma espécie de suicídio”.5

Parece-me evidente que os processos políticos atuais geraram um mundo sem lideranças. Não há verdadeira liderança nos atuais países porque todo o jogo político local obedece a ordens que não entendemos nem ouvimos. E não há, também, uma liderança mundial, porque o lugar ainda está vago. É o lugar dele, do Anti-Cristo. Quando este homem do pecado determinar que chegou a hora de aparecer, será certamente ovacionado por toda a humanidade, pois falará a mesma linguagem, terá o mesmo pensamento de todos, sobre tudo isso que citei acima. Sua ideologia, sua política, sua ciência, tudo corresponderá ao que os homens pensam e praticam já hoje. Por isso podemos dizer sem medo de errar. O mundo está pronto.

Não estou aqui a dizer que o fim do mundo está próximo, ou que o Anti-Cristo seja tal ou tal pessoa. O que me interessa nestas linhas é que os verdadeiros católicos tenham consciência do perigo que correm se mergulharem no mundo. Se acharem que podem viver com estes critérios que lhes são impostos, correm o grave risco de serem enganados pelo grande líder, quando este chegar. Algumas pessoas poderiam objetar que podemos conviver com todos e permanecermos católicos. Mas eu os alerto para essa diferença radical entre o mundo de hoje e o mundo de cinqüenta anos atrás: lá, no final da civilização cristã, ainda era possível viver assim porque os homens tinham aquele critério da prática das virtudes, para suas próprias vidas e para os seus filhos. Mas hoje já não é assim. Portanto, estejam armados, de espada em punho, pois aquele que não combater, que não desviar seu pensamento das falsas idéias, que não fugir das práticas absurdas, blasfematórias, ultrajantes para Deus e sua Igreja, pode enredar-se na fina malha que já foi lançada sobre os homens e que os arrasta para o reino do Anti-Cristo, que não é outro que o reino das trevas. Está na hora de reler algumas páginas dos santos e doutores da Igreja:
 
“Estas são as marcas da vinda do Anti-Cristo:
Quando os velhos não tiverem nem bom senso nem prudência,
Quando os cristãos estiverem sem fé,
Quando o povo estiver sem amor,
Quando os ricos forem sem misericórdia.
Quando os jovens não tiverem respeito,
Quando os pobres forem sem humildade,
Quando as mulheres tiverem perdido o pudor,
Quando, no casamento, não houver mais continência,
Quando os clérigos forem sem honra e sem santidade,
Quando os religiosos não tiverem verdade nem austeridade,
Quando os bispos não se inquietarem de sua administração e não tiverem piedade,
Quando os mestres da terra não tiverem misericórdia nem liberdade”.6
 
E o Padre Emmanuel, grande espiritual do sec. XIX:
 
“Apresentar-se-á como cheio de respeito pela liberdade dos cultos, uma das máximas e uma das mentiras da besta revolucionária. Dirá aos budistas que é um Buda; aos muçulmanos, que Maomé é um grande profeta... Talvez até irá dizer, em sua hipocrisia, como Herodes seu precursor, que quer adorar Jesus Cristo. Mas isso não passará de uma zombaria amarga. Malditos os cristãos que suportam sem indignação que seu adorável Salvador seja posto lado a lado com Buda e Maomé em não sei que panteon de falsos deuses”7.
 
Impotentes que somos diante de tal situação, só podemos olhar para a Virgem Maria, para seu Coração Imaculado, e suplicar a ela que nos proteja contra toda influência do maligno. Que nos dê a mão, que nos acolha em seu Coração. É preciso fincar o pé, recusar ser arrastado como um cordeirinho para a destruição de nossa personalidade, de nossa fé, de nosso espírito. É preciso ler, estudar, conhecer a verdade objetiva, clara, de Deus, do mundo, do pensamento. É preciso amar. Amar na ordem da Caridade, ou seja, amar como Deus nos ordena, praticando os mandamentos, cumprindo nosso dever. E nossos deveres são de três ordens: para com Deus, para nós mesmos, para com o próximo.

É preciso, com toda urgência, praticar a devoção reparadora dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria. Fazer os Primeiros sábados do mês, rezar o Terço todos os dias, para que, ao chegar o Anti-Cristo, estejamos recolhidos e protegidos por nossa Mãe do Céu. Com a espada em punho, lançaremos contra o rosto tenebroso do homem do pecado o grito de Viva Cristo Rei! Imaculado Coração de Maria, salvai-nos! E Jesus Cristo o vencerá “com o sopro da sua boca”.
 

  1. 1. Corção, Gustavo, Dois Amores, Duas Cidades, Agir, 1967, Tomo II, parte 3 – A civilização do Homem-Exterior
  2. 2. Diga-se de passagem que o Concílio Vaticano II amordaçou a Igreja, retirando o último obstáculo para conter a avalanche.
  3. 3. Foi a primeira mentira proferida na face da terra, do demônio a Eva. “Sereis como deuses” se desobedecerem a Deus.
  4. 4. “E toda a terra, cheia de admiração, seguiu a besta” (Apoc. XIII, 3)
  5. 5. Castellani, Leonardo, Los Papeles de Benjamin Benavides, Buenos Aires, 1953,  Caderno 4, cap. 2.
  6. 6. São Boaventura
  7. 7. Pe. Emmanuel-André, O drama do fim dos tempos, Revista Permanência 198-199.

Do esgoto do mundo à salvação dos nossos filhos

Dom Lourenço Fleichman OSB

 

O que me leva a escrever hoje é a constatação, cada dia mais evidente, da dificuldade que as famílias católicas têm para viver neste mundo enlouquecido e transviado. O espetáculo que estamos assistindo, e que não se limita ao carnaval, mas ao ano todo, e a todos os anos, é de meter medo. Nossas famílias, nossas melhores famílias, não conseguem se isentar deste mundo. Todos pactuam  com práticas diversas de destruição do que resta de decência e de família. Digo "família" porque já não há mais nada de sociedade a ser preservado, já não temos mais o que defender! Tudo está destruído. Mas talvez ainda possamos lutar dentro de nossas famílias, ou dentro de nossos corações.

Ora, é justamente esta constatação da destruição de todas as realidades sadias da  antiga sociedade que explica a dificuldade das pessoas em não se contaminar.  Explico.
Dentro de uma sociedade em vias de corrupção, as pessoas teriam de sair de casa tomando certos cuidados para não serem contaminadas: cuidados com os outdoors, com as bancas de jornal, com o convívio no trabalho, e até mesmo com  os assaltos na rua. Dentro de suas casas, haveria necessidade de lutar constantemente contra os programas de televisão, tomar cuidado com o tipo de gibi ou de video-game que compra para os filhos. Dentro de uma sociedade assim, indiferente a Deus e apóstata da Santa Religião Católica, os pais de família teriam de trazer para seus filhos um bom catecismo, uma Capela onde se celebre a Santa Missa Tridentina, onde o catecismo fosse ensinado segundo a doutrina de sempre da Igreja.

Mas não é numa sociedade em vias de decadência, que nós vivemos. E é nesse ponto que se encontra o erro de tantos pais. Ao achar que a questão é de grau de corrupção, eles procuram defender  suas famílias sem no entanto tirá-las do ambiente em que estão sendo corrompidas.
Vejam bem o que quero dizer: nossa sociedade já não tem mais nada que mereça a nossa atenção. Os valores em voga nessa sociedade formam um esgoto nojento e fedorento que emporcalha tudo e todos. Não há como escapar! Você sai na rua, você vai ao médico, você compra um jornal, você é engenheiro, ou advogado, ou motorista de ônibus, o que seja, o que se faça, na rua ou dentro de casa, o esgoto se espalha, contamina, agarra-se em nossas peles, transmite o seu cheiro insuportável. E é tal a realidade disso que estou dizendo, que, estando todos contaminados, estando todos sujos e fedorentos nas entranhas de nossos costumes e de nossos interesses, os homens não sentem mais o fedor de si mesmos! Todos agem,  pensam, falam, com os critérios da lama e da cloaca.

A tendência que nós teríamos, seria a de querer comparar todas essas realidades com os critérios da nossa antiga formação. Falaríamos do funk comparando com outros tipos de música: – Ah!, na minha época não era assim!  Falaríamos das pichações, e do homossexualismo, e do nudismo nas ruas, e do sexo desenfreado e vagabundo, do  aborto e das clonagens, sempre comparando, comparando...com o quê? Até quando?

Não, não podemos nos enganar. Não é mais possível esse tipo de sem-vergonhice. É preciso ter a coragem de dizer, de pensar, de saber: acabou! O mundo como nossos pais nos ensinaram já não existe mais. E se os homens ainda votam (meu Deus, ainda se acredita na mentira da "democracia"!!), se os políticos ainda nos governam, é por simples reflexo dos nervos da defunta sociedade liberal e apóstata.

Outro dia me contaram mais uma vez o caso de um professor de universidade, casado, bom pai de família. As mulheres da faculdade avançam sobre os homens, sem querer  saber se é casado, se não é;  umas dez para cada um, que falam com os homens já se encostando, já se entregando. E a pessoa que me contava isso, dizia: "elas já perderam tudo". Eu procurei mostrar ao meu interlocutor que, ao contrário, essas mulheres não perderam nada, porque não há nada mais a ser perdido. Perder, para um católico, é considerar que as mulheres, dentro de uma sociedade com critérios de bem e de mal, de virtudes e de vícios, abandonaram completamente os primeiros e vivem pelos segundos. Mas não é esse o fenômeno que assistimos. O que existe, de fato, é uma sociedade onde o bem e o mal não se opõem, onde não há virtudes e vícios, onde tudo é permitido, onde tudo é "bom". De modo que essas mulheres não agem assim por perversão delas. Não são maus elementos da boa sociedade. É a própria sociedade que é má, que é perversa. Elas nada mais fazem do que viver segundo os critérios desse mundo. Eis um exemplo que vem reforçar o que dizia acima, sobre o esgoto que está pelos ares, no ar que respiramos, nas conversas que temos, na casas como na rua.

E mais uma vez, espantados e agradecidos, é em São Paulo que vamos encontrar a explicação desse tremendo mal, desta horrível provação que é hoje pedida aos que querem se salvar:

«Porque nós não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares».

Vejam bem, o Apóstolo desdenha quase dos pecados pessoais, da carne e do sangue, para nos advertir sobre um tempo em que o mal estaria espalhado pelos ares. Que coisa impressionante! Que revelação tremenda recebeu de Deus São Paulo.
E o que é que ele nos recomenda  para uma situação tão tenebrosa? O combate, a guerra, a espada. Mas não podemos combater simplesmente com as armas comuns que usamos contra a tentação:

«Portanto tomai a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau, e ficar de pé, depois de ter vencido tudo».

É, portanto, uma armadura, que nos cubra dos pés à cabeça, que nos leve à vitória total, sobre tudo, ou seja, sobre a própria sociedade erigida pelo demônio, pelo Anticristo, para a perda e condenação dos justos. Porque os maus, meus filhos, já estão condenados há muito tempo. O que o diabo não suporta é que haja ainda alguns loucos resistindo e querendo o Reino de Deus.

Que haja,  ainda, alguns doidos excomungados pela nova Religião de Vaticano II, conivente e "aberta para o mundo", que preguem o verdadeiro Evangelho de Cristo. Isso ele não suporta. Seu ódio mortal distila sobre esse esgoto do mundo uma saliva fétida e corruptora, que só o torna pior; porém, cheio de astúcias, o torna também mais enganador. E é assim que, insistindo em dizer que o mundo ainda é o mesmo, que as mulheres "perderam tudo", que em outras épocas "não se ouvia funk",  e coisas desse tipo, Satanás vai enganando os bons. E quem são os bons? São vocês. São vocês, que querem permanecer católicos, mas querem conviver com o mundo; que querem agradar a Deus, mas não rechaçam os prazeres mundanos. Que assistem à Missa verdadeira, mas acham que os protestantes são piedosos! Que lutam contra os pecados da carne, mas deixam seus filhos nas boates e na televisão.

E essa gente enganadora, esses cúmplices do demônio, Anticristos dessa nova sociedade má, declaram para quem quer ouvir isso que estou aqui denunciando.

Estando eu, numa sala de família onde alguém assistia a uma entrevista na televisão, o entrevistado, creio que falando em francês, espécie de artista já de idade, com uns cabelos brancos compridos, virou-se para a câmara e deu seu recado final, sua saudação alegre, sorridente, para os estúpidos que o admiram. Abriu os braços como quem mostra o mundo, e num sorriso simpático repetiu três vezes, lentamente, e com um gesto cada vez mais abrangente: Merde, merde, merde!

Que me desculpem os ouvidos pudicos. Mas diante de certas realidades, só o palavrão pode exprimir a realidade. E ele deve ser dito, para evitar que  uma palavra mais amena nos engane sobre a gravidade da coisa. Foi isso que ele disse, e disse bem, pois é esse o mundo que ele prega, é essa a cultura que ele produz, é esse o fedor e a cloaca de que eu falava acima.
E é por isso que os nossos, que os bons pais de família, não conseguem vencer os atrativos do mundo. É por isso que eles abrem as portas de suas casas e deixam entrar este ar tenebroso e fedorento. É porque está já tudo coberto por esta substância, de modo que nem os bons conseguem mais distinguir os perfumes da alma santa, da Igreja santa, da família católica.

Mas eis o que Deus nos revela  como sendo  nossa atitude diante desse quadro:
«E ouvi outra voz do céu que dizia: Saí dela, povo meu, para  não serdes participantes dos seus delitos e para não serdes compreendidos nas suas pragas» (Apoc. 18, 4)
No início do ano, em conversa com as famílias da Capela Nossa Senhora da Conceição, mostrei a elas que para manter-se fiel à Fé e perseverar na busca da salvação, diante do quadro avassalador em que se encontram nossos filhos, era necessária uma cumplicidade voluntária entre os pais e o padre. É preciso hoje,  que os pais trabalhem em conjunto com o sacerdote, querendo ouvir as orientações a que a moral católica nos obriga. Querendo estudar a doutrina, querendo que seus filhos sejam orientados, que tenham contato constante com o padre e com a Capela. Essa cumplicidade precisa ser vivida de modo prático e eficaz, na busca da oração, do Santo Terço dentro de casa, da fuga desse mundo corrompido e contagiante que está carregando de roldão o que vocês têm de mais amado, que são seus filhos. E vocês não estão conseguindo conter a avalanche, e estão se inclinando a achar que é assim mesmo, que todo mundo faz... e o mundo vai tendo cada dia maior presença em suas casas.

Cumplicidade significa renunciar a certas facilidades, a certos confortos, a muita televisão, a um comportamento indecente e imoral que se manifesta nas roupas, nas atitudes, nos gestos, no sexo precoce e pecaminoso. Cumplicidade é impedir, sim!, impedir que seus filhos ouçam esses funks e coisas semelhantes que só fazem arrebentar todas as forças espirituais da alma, movendo a carne para a sensualidade e para o pecado.

Cumplicidade significa organizar o lar de modo a que as atividades sejam orientadas; mas para isso, é preciso perder tempo, perder muito tempo, num esforço difícil mas necessário, organizando biblioteca e videoteca capazes de entreter seus filhos no bem. Vejam! O que eu entendo ser uma guerra para salvar seus filhos, é a presença da mãe junto deles, cada dia mais necessária, justamente no momento em que elas são cada dia mais empurradas para fora de casa, abandonando seus filhos, que vão ser criados numa creche ou por uma empregada. A mãe é chamada hoje,  não é ao fogão e ao tanque, não senhoras! É a um trabalho estafante, na rua, indo de livraria em livraria, de sebo em sebo, recolhendo livros bons, que sejam formadores de valores morais; comprando filmes que tragam algum proveito de  vida e de moral para os próprios pais e para seus filhos. O que as mães precisam fazer é formar-se na Universidade da Família, aprendendo a contar histórias, a brincar de roda, a inventar atividades e passeios, a ensinar música para seus filhos. Se fosse para fazer isso como educadoras, como diretoras de uma firma, como vendedoras de uma loja, aí elas ficariam encantadas... mas como é dentro de casa, ou pelo menos, como é para ser aplicado dentro de casa, elas reclamam, e querem a rua, querem o mundo.... Coisa estranha! Estranha contradição. Dizem que amam seus filhos, mas não querem estar a seu lado, na educação, à serviço de suas alminhas inocentes ameaçadas de morte prematura.

Creio que este papel reservado às mães, traria outras vantagens para seus filhos. Pois é evidente que duas ou três mães poderiam perfeitamente se juntar e trabalhar em conjunto, revezando-se talvez nas tardes ou manhãs livres, para juntar seus filhos em passeios e atividades. Logo apareceria uma que sabe tocar um instrumento, e eis que começa umas aulas de música, nessa idade delicada dos cinco ou seis anos, em que começa a formação musical e artística.
Parece ilusório o que lhes proponho? Talvez pareça ilusório porque as mães já não estão habituadas a esse esforço. Afinal, como é simples apertar um botão de televisão ou computador, e eis o silêncio das ovelhinhas  instalado no lar ... indo  para o  matadouro!
Não me parece ilusório porque são atividades próprias aos educadores, e os pais são educadores por obrigação e por graça de estado.

E se a objeção é o orçamento do lar, que a mãe precisa trabalhar senão não fecham as contas no fim do mês, respondo que são poucos os casos em que há verdadeira necessidade. O que se vê, em geral, é a busca cada vez maior de ter, de possuir, de gastar,  num vício desenfreado que vai contra a virtude da pobreza. Diminuam as necessidades, e que os maridos sejam mais eficazes nos seus trabalhos, pois cabe a eles a cumplicidade de fazer o possível para que a mãe possa criar seus filhos.

Lembrem-se que os filhos não são bonecos bonitinhos que só servem para satisfazer o orgulho e o amor-próprio dos pais, bonecos que se encostam numa creche ou numa televisão para que não atrapalhem o resto do dia. Ter filhos é obrigação de todo casal, e educar é carregar a Cruz de Nosso Senhor, abandonando a vontade própria para transmitir a Fé verdadeira, a verdade natural e sobrenatural, a moral de Deus e o amor ao próximo.

E para completar este combate onde as mães devem ser leoas rugindo contra o mundo devorador, onde os pais devem ser leões fortes e trabalhadores no sustento do lar, onde a família se encontra em todas as atividades, do ritual das refeições em comum, passando pela oração em comum para chegar à Santa Missa, venho exortá-los, agora, a que recebam a bênção do Sagrado Coração sobre as famílias, a Entronização no Lar do Sagrado Coração, como sendo a retaguarda espiritual dessa guerra tremenda e constante,  onde as forças espirituais devem ser preservadas, para que a vida natural não se perca seguindo os passos do demônio e do Anticristo. Façam a Entronização, façam a Renovação anual, e venham para a Capela, venham na 1ª Sexta, no 1º Sábado, receber de Nosso Senhor o Alimento Sacramental que nos dá a força sempre viva da Fé, da Esperança Teologal no sucesso e na Vitória, e a Caridade que é o próprio Deus vindo dentro de nós num dom de Si mesmo, como Amor Substancial. Que a Virgem Maria, Nossa Senhora da Conceição lhes dê forças para combater. É preciso desejar a vida eterna apaixonadamente, sem descanso. Não esmoreçam, pois o Senhor bate, já está às portas; Ele colhe, e queimará a erva daninha que não servir para o seu Celeiro.

Brasil católico

O Brasil, durante muito tempo, foi considerado o maior país católico do mundo. Parece que houve épocas em que mais de 90% dos brasileiros eram católicos. Não é para espantar. Os países colonizados pelos portugueses e espanhóis foram fundados por homens que tinham uma preocupação grande com a salvação das almas. Apesar de muitas mentiras contadas para as nossas crianças nos livros escolares onde o papel civilizador e santificador da Igreja Católica é enegrecido e brutalizado por calúnias, a verdade límpida e pura é evidente: houve abusos, houve comércio, enriquecimento de alguns, ganância e crimes, certamente, porque em todo empreendimento humano sempre será desta forma; houve sim porque nem sempre os portugueses ou espanhóis que vieram para cá foram homens católicos ou, pelo menos, que vivessem o catolicismo de modo puro e sincero. Ao contrário, havia até condenados pela justiça que encontraram nos riscos de tal aventura um meio de escapar da prisão. Mas o que faziam os missionários dentro daquelas cascas de noz que atravessavam o Atlântico? O que queriam? Possuir terras e riquezas? Ouro? É curioso como se inverte a realidade. Se assim fosse, não seria mais lógico que primeiro deixassem que o ouro fosse descoberto para depois vir participar da "divisão"? Porque os padres e religiosos viriam sem saber se ouro havia? Porque eles sabiam de uma só coisa, e era suficiente: havia gente. Havia povos pagãos que precisavam do Evangelho para conseguir ir para o céu. E os mentirosos como o sr. Mário Smith, autor nefasto de livros de História envenenam grande quantidade de crianças brasileiras com carimbos e chancelas dos nossos ministérios. Gente como este senhor precisava responder a processos judiciais por envenenamento de almas. Ele faz o contrário do que faziam os missionários, ele corrompe, mente, debocha, destruindo nas consciências dóceis das crianças o amor por nosso passado, por nossa cultura católica, por nossa Pátria.

Onde estão os católicos do nosso país para denunciar esta corrupção da verdade? Onde estão os bispos brasileiros para proibir aos seus fiéis o uso de tal medíocre e mentiroso livro?

O Brasil era um país católico. Chamou-se Terra da Santa Cruz porque foi batizado próximo da festa da Invenção da Santa Cruz, no dia 3 de maio, que celebra a descoberta da verdadeira Cruz de Nosso Senhor, por Santa Helena, em Jerusalém. A sociedade brasileira, apesar de seus governos liberais, maçônicos, anti-católicos, manteve sempre acesa a luz da Fé e chegou aos meados do século XX como essa grande nação católica, que causava admiração a tantos, pela simplicidade e pela convicção do seu povo. A grande guerra iniciou um mundo novo, um mundo orientado para liberdades desenfreadas, que romperam todos os limites morais impostos pela Lei sagrada de Deus. Apesar disso, ainda havia no Brasil uma força religiosa grande e em 1964 o povo católico foi às ruas das principais capitais, com o Terço na mão, pedindo a Nossa Senhora que não nos permitisse cair no comunismo. E o nosso Exército ouviu o clamor popular e derrubou o governo João Goulart Seria preciso todo um trabalho para falar sobre o governo dos militares, que são caluniados e chamados de "ditadores", quando na verdade formaram uma elite de políticos retos, ou mais retos do que os outros, para os ajudarem a governar um país que se tornara ingovernável pelos desmandos e pela sede de poder do sr. Goulart. Há pouco tempo atrás a imprensa brasileira muito falou sobre os 30 anos do AI-5. Este decreto governamental dos militares, meio de exceção para conter os crimes também de exceção, é o principal "bode expiatório" lançado como "pecado" dos militares contra o Brasil. Não foi. Foi apenas um instrumento de governo num momento em que a revolução armada, os assassinos de inocentes, assaltantes de bancos, seqüestradores, abusavam da liberdade que lhes era dada até então. Pois a imprensa foi entrevistar muitos dos políticos civis que, naquela época, sentavam com os militares no Conselho de Segurança. E todos eles confirmaram que os militares não tinham outra saída e fizeram o que precisava ser feito para não deixar o Brasil cair na guerra civil. Mas os intelectuais, jornalistas, políticos continuam contando ao povo essa enorme mentira que tenta fazer dos nossos soldados o contrário do que eles foram. Mas o povo simples sabe e repete. Na época dos militares, todo brasileiro era livre de fazer o bem que lhe agradava, saía nas ruas a qualquer hora sem perigo, tinha um emprego e uma inflação heroicamente controlada, e um crescimento anual de fazer inveja.

Mas aconteceu um fenômeno que fez aquele belo esforço dos nossos militares desaparecer num mar de lama e de corrupção: aconteceu o Concílio Vaticano II. O liberalismo desenfreado tomou conta da hierarquia católica e com isso, o Brasil católico começou a esvaziar-se como uma bola de aniversário. Foi murchando o Brasil, sendo dominado pela mentira de ideologias marxistas porque desapareceu a barreira do catolicismo. Todo o trabalho de formação dos brasileiros, nas escolas, nas universidades, passou a ser marxista, liberal, anti-católico. E o Brasil católico desapareceu. Leiam a introdução do Século do Nada, de Gustavo Corção e poderão compreender melhor essas verdades e tudo o que aconteceu no Brasil dos militares.

Onde está a Pátria brasileira? Onde está este Brasil católico?

Existe no mundo pequenos grupos de católicos que resistem bravamente contra a decomposição do catolicismo. Os inimigos da Igreja, dentro da hierarquia do Vaticano possuem estrutura, gente, dinheiro, imóveis, jornais, influências para destruir qualquer obstáculo que se apresente contra eles. E no entanto esses pequenos rebanhos, como são as nossas Capelas de N. Sra da Conceição, de São Miguel, e tantas outras espalhadas pelo mundo, continuam levantando suas preces nas Missas Tridentinas, no estudo da doutrina anterior a Vaticano II, protegidos pelo manto da Virgem Maria e da fé católica. Acusados e marginalizados por uma hierarquia que varia entre "conservadores" de reta intenção, mas que erram por excesso de juridismo, chegando aos loucos heréticos fomentadores de um catolicismo sem fé, de um Jesus Cristo sem divindade e que odeiam tudo o que é católico, seguem os fiéis da Tradição com o vigor e o ímpeto de amor que os leva a caminhar quarenta dias e quarenta noites pelo deserto. Mas somos poucos, muito poucos. Porém, quando esses pequenos grupos de fiéis se reúnem, o espetáculo é grandioso, porque a Tradição católica é assim.

Foi o que aconteceu no domingo dia 10 de outubro, quando participei da Peregrinação de Nossa Senhora de Lujan (leia-se: Lurran) padroeira da Argentina. Fiéis vindos de toda a América Latina caminharam 35 quilômetros, entre o Seminário da Fraternidade São Pio X e a Basílica de N. Sra de Lujan. Total de peregrinos ao longo das estradas: 520. Durante o dia todo, caminhamos rezando o Santo Rosário, cantando os cânticos tradicionais, enquanto os padres iam confessando os fiéis. Tudo isso organizado com duas paradas, sanitários, água, médicos e enfermeiras etc. Ao chegarmos na cidade de Lujan, nos dirigimos para um ginásio próximo à Basílica onde foi preparada a Santa Missa que celebrei, tendo sido convidado para pregar aos peregrinos. Esta missa foi assistida por mais de 700 fiéis. Dois sacerdotes cumpriram as funções de Diácono e Sub-diácono, com os seminaristas da Fraternidade São Pio X acolitando nas diversas funções. O côro da Capela de Buenos Aires cantou toda a missa, acompanhado pelo povo.

Ao término da cerimônia formou-se a procissão que dirigiu-se para a Basílica, já sendo noite. A imagem de Nossa Senhora ia à frente, os seminaristas e sacerdotes, cerca de cinqüenta, em ordem de dois e, por fim, os fiéis, encheram as redondezas com o som melodioso e a piedade de outrora. E o povo das ruas, emocionado, aplaudia, juntava-se aos fiéis e assim percorremos a grande praça até entrar na belíssima Basílica, obra monumental, riquíssima, em estilo gótico, que mais lembra uma catedral medieval. Não posso deixar de lamentar a falta de gosto, de arte, de amor e piedade daqueles que construíram o nosso Santuário de Nossa Senhora Aparecida, que vira um caixote gelado e vazio  diante da riqueza do Santuário de Lujan. Não é assim também a Catedral do Rio de Janeiro? Ou a de Brasília? Pobre povo brasileiro, arrancaram a sua fé a marretadas, arrancaram a beleza dos seus santuários, arrancaram o amor e a piedade dos nossos corações. Mas nós estávamos lá, junto aos católicos de língua espanhola, unidos pela mesma fé, o mesmo Credo, a mesma Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa. Irmanados pela Verdade do catolicismo, pela Tradição, pela Pátria. Éramos uns dez ou doze brasileiros, a maioria vinda de Santa Maria, RS, da Capela da Fraternidade São Pio X. Ali representávamos todos os brasileiros, que sejam freqüentadores das nossas capelas ou simplesmente bons brasileiros que amam seu passado, suas raízes católicas, que não fizeram do seu patriotismo apenas torcer na Copa do mundo ou numa Olimpíada.

Em nossas preces à Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, Terra de Santa Cruz, em nossa devoção filial à Mãe de Deus, precisamos devolver à nossa Pátria o amor e o espírito de sacrifício daqueles que construíram nossa Pátria. Do Padre Manoel da Nóbrega, talvez o mais esquecido dos nossos fundadores, do Pe. José de Anchieta, Apóstolo do Brasil, dos reis de Portugal que enviaram os primeiros missionários para evangelizar os índios, abrindo-lhes as portas do Paraíso, de todos os católicos que se estabeleceram em nossa terra e construíram aqui uma sociedade familiar, nobre, honrada, religiosa, antes que a avalanche maçônica e liberal a destruíssem.

E é por isso que vale a pena continuar, sofrer esta brutal marginalização que é o martírio gota à gota dos tempos modernos, para mostrarmos aos nossos inimigos que não temos medo do combate e que, mesmo se formos esmagados na lida desta vida, espera-nos a coroa da glória, prometida por Jesus aos que sofrerem perseguição por amor do seu nome e da sua Justiça.

Feliz Natal

Dom Lourenço Fleichman OSB

O que deve ser o voto de Feliz Natal de um padre, de uma Capela como a nossa a todos os nossos fiéis, a todos os nossos amigos e leitores? É de praxe e de bom tom trocar votos de felicidades nesta data do nascimento do Menino Jesus. E fazemos bem. Pois no fundo de nossas almas paira ainda a teologal esperança que avança sem tréguas em meio ao mar revolto deste mundo. Servirão os votos que damos e recebemos, pois de alguma forma as pessoas precisam da paz natural para viver em sociedade.

Mas é esse lado natural o que me incomoda. E onde está a realidade sobrenatural do Natal? Onde encontraremos, perdidos e abandonados nos cantos das ruas, os santos de outrora, que talvez corressem agitados, preparando tudo, organizando os mínimos detalhes de uma festa sem fim: Et Verbum caro factum est! Pois o Verbo se encarnou e habitou entre nós. O Verbo de Deus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade, recebe uma natureza como a nossa para nascer na manjedoura em Belém. E onde estão as almas admiradas e contemplativas para fugir do shopping, largar as bolsas de compras, os presentes dos filhos, o novo celular, e correr desembestado por um estacionamento entupido..... Ah! Ele nasceu, eu vi a estrela, eu vi o Menino. Hosanna in excelsis! Eu vi, eu compreendi o que acontece. Por que não nos dizem isso? Onde estão os padres, onde estão os bispos, onde está o sangue católico, que já não corre nas veias dos homens, para nos dizer, para nos lembrar que o louco não sou eu que corri feito doido largando tudo no chão; os loucos são eles, que estão lá dentro, fazendo compras e mais compras; os doidos são eles, que, mesmo quando criticam o esvaziamento do Natal católico, não param para meditar no Mistério dos mistérios, na candura e inocência, na paz... na paz... Para que foi mesmo que ele nasceu? Para nos trazer a paz...

Não foi isso o que eu vi, não foi isso o que Ele quis me dizer quando me fez mergulhar naquele mundo de silêncio, no meio da multidão que corria agitada atrás das compras, das promoções, da última moda. Não foi isso o que o Príncipe da Paz me disse, quando abri seu Livro Santo e li: "Não vim trazer a paz, mas sim a espada!" Não, ele não veio nos trazer a paz, nesse sentido natural que os homens querem. É isso! Era isso o que me incomodava. Às favas com essa falsa paz de que nos fala o profeta, esse romantismo abusado que usa o Inocente, nosso Deus, para fingir que deseja a paz a todos. Não, não é isso o que eles desejam! O que eles querem é o paraíso na terra, é prolongar a vida até não poder mais, é liberar-se de toda obediência à Verdade Eterna. Pergunte a um deles se querem seguir os ensinamentos da Verdade? Qual Verdade? Eles não querem aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Eles querem, exigem, e batem pé: nós queremos a verdade de Pôncio Pilatos! Trata-se da verdade relativa, do liberalismo, de você seguir o que você pensa, autônomo, achando-se adulto, responsável... sem Deus, sem Cristo, sem a Igreja! Depois vêm me cantar musiquinhas bonitinhas na televisão para fazer chorar de emoção numa confraternização universal. Chega disso!

Por favor, não venham me dizer que é preciso esquecer certos acontecimentos, e deixar de lado as convicções, pois é noite de Natal. Acho que esse argumento pode ser válido para muitas ocasiões e para muitos natais. Mas se a causa de tantos desastres e tragédias está justamente no esquecimento de Jesus, no abandono da Criança de Belém, como não pensar nisso tudo? Se hoje a Argentina vive um Natal terrível e amanhã qualquer país o poderá viver também; se hoje aviões são lançados sobre prédios porque os loucos assassinos querem matar todos aqueles que não pensam como eles. Se tudo isso acontece porque o Rei Pacífico não tem direito de reinar sobre as nações, então essa paz e essa felicidade que eles desejam é de uma hipocrisia total!

E no entanto... E no entanto há lugar para a Paz, desde que não seja a paz dos jornais. Há lugar para cantar, numa noite de Natal, um cântico novo ao nosso Deus, ao Menino-Deus, desde que nossos olhos sejam olhos de filhos, puros e espirituais. Desde que nossas almas sedentas saibam dobrar os joelhos e rezar no silêncio da noite: Venite adoremus! vinde, adoremos a Criança, Jesus nosso Deus e Salvador, que nasceu hoje para morrer amanhã, para nos dar seu Sangue, para nos dar sua vida. Há lugar para desejar, ao menos para desejar, que o Rei da Paz seja o chefe das nações, o chefe de nossa Pátria; que ela se dobre diante do seu cetro e se deixe governar por seu Evangelho e por sua Igreja.

Então, sim, nesta hora em que nas igrejas soam os sinos, a missa do Galo, a Santa Eucaristia: meu Senhor e meu Deus. Que nossos corações tenham um ímpeto de amor e queiram com todas as forças espalhar pelo mundo as luzes do nosso Bom Deus. Então, sim, mergulhados na oração, saudemos nossos amigos e irmãos, troquemos nossos votos e orações, pois Ele nasceu, ele nos foi dado. "Hodie, filius datus est nobis — hoje, um Filho nos foi dado".

É por isso que desejamos a todos um Feliz Natal e um ano-bom repleto de todas as graças de Deus.

A ética do país das fadas

A minha primeira e última filosofia, em que acredito com uma certeza inabalável, foi aquela que aprendi no quarto de infância. E eu a aprendi em geral de uma ama-seca, quer dizer, da grave e luminosa sacerdotisa tanto da democracia quanto da tradição. As coisas em que eu mais acreditava então, as coisas em que eu mais acredito agora, são as coisas denominadas contos de fadas. Eles me parecem ser as mais racionais de todas as coisas. Não são fantasias: perto deles, as outras coisas é que são fantásticas. Perto deles, a religião e o racionalismo são ambos anormais, embora a religião seja anormalmente certa e o racionalismo anormalmente errado. O país das fadas não é outra coisa senão o ensolarado país do senso comum. Não é a terra que julga o céu, mas o céu que julga a terra; portanto, para mim pelo menos, não era a terra que criticava o país das fadas, mas o país das fadas que criticava a terra. Conheci o mágico pé de feijão antes de ter experimentado o grão de feijão; acreditei no Homem da Lua antes de ter certeza sobre a existência da própria lua. E isto estava de acordo com toda a tradição popular. Os modernos poetas menores são naturalistas, e falam de bosques ou de riachos; mas os cantores dos velhos poemas épicos e das fábulas eram supernaturalistas, e falavam dos deuses dos bosques e dos riachos. Isto é o que os modernos querem dizer quando afirmam que os antigos não “apreciavam a Natureza”, já que diziam que a Natureza era divina. As velhas amas-secas não falavam às crianças sobre a grama, mas sobre as fadas que dançam na grama; e os velhos gregos não conseguiam ver as árvores porque as dríades as encobriam.

Razão, Paixão e Namoro

Dom Lourenço Fleichman OSB

Hoje eu queria lhes falar sobre um tema que tenho pensado e exposto em algumas conferências que andei fazendo por aí. Tema difícil e que eu tenho falado como em uma espécie de laboratório, de reflexão, captando aqui e ali as ponderações das pessoas sábias. É dentro desse espírito que eu lhes trago aqui. Meu intuito é tratar do assunto do namoro de forma racional, buscando as razões profundas que levam os homens a se comportar com respeito, na obediência à Lei de Deus. Não é suficiente, hoje, um padre dizer aos jovens: não façam isso ou aquilo. Quem quer entender, busque a verdade!   Leia Mais

 

Falsas Lições sobre Gustavo Corção

 Dom Lourenço Fleichman OSB

 

Quando escrevi o prefácio ao livro O Pensamento de Dom Antônio de Castro Mayer, procurei denunciar a falsificação que seus sucessores e seus padres realizavam ao esconder e abandonar toda referência aos textos do grande bispo, com data a partir da década de 1970. Nesta época tornaram-se mais claras as causas dramáticas da crise da Igreja e por todo o mundo apareceram críticas mais severas ao Concílio Vaticano II e sua obra. LEIA A CONTINUAÇÃO
 

O sentido do mundo hispânico

Conferência proferida no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, sob o patrocínio do mesmo Instituto e da Casa de Cervantes, a 28 de abril de 1960. O autor era o editor da antiga e excelente revista Hora Presente.

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