Família e moral (139)
“Senta direito! Guarde os sapatos! Faça menos barulho! Quieto! Você é incorrigível! Vem aqui, agora! Não mexa nisso! Presta atenção!” Uma ladainha assim, de censuras repetidas ao longo do dia pode quebrar até mesmo as vontades mais firmes. Sem dúvida, os pais estão obrigados a advertir, admoestar e castigar os filhos. Mas é também importante encorajá-los -- e ainda mais do que censurá-los -- e, para isso, é preciso saber elogiar com discernimento. Qual a maneira mais apta de estimulá-los: “Se não me aparecer aqui com nota boa, você me paga!” ou “Estuda, meu filho, você vai conseguir. Tenho certeza de que não me decepcionará”?
O otimismo é uma grande qualidade do educador. Ele permite enxergar as aptidões da criança (sempre existem algumas), ter esperança no seu progresso apesar das dificuldades, não se desencorajar diante do tamanho da tarefa. O otimismo, por sua vez, faz com que a criança adquira confiança em si mesma, o que é indispensável para toda empreitada.
Alain é bagunceiro: o seu quarto nunca está arrumado, os sapatos sujos estão misturados com o Playmobil. Devemos gritar, chamar-lhe de imprestável, reclamar que já mandamos cinquenta vezes que ele arrume aquela bagunça? Claro que não! Isso só fará enraizar no seu espírito a idéia de que ele não mudará nunca. É preciso de início fixar um objetivo simples, concreto, acessível. O sucesso nesse ponto particular servirá de encorajamento para lhe fazer progredir para uma tarefa mais árdua: “Para aprender a arrumar o seu quarto, você vai começar dobrando suas roupas toda noite. Não é difícil, você é capaz e eu vou te mostrar como fazer”. Durante um tempo suficientemente longo (um mês, um trimestre...), nós o ajudamos a cumprir essa tarefa, fechando os olhos para o resto, que virá a seu tempo. “Bravo, vejo que você é capaz de ser um rapaz ordeiro, passou uma semana arrumando as roupas sem que eu tivesse de te mandar fazer. Parabéns! Agora que já sabe fazer isso, você vai começar a pôr os cadernos em ordem depois de terminar a lição. Papai vai colocar uma prateleira para que seja mais fácil.”
Ah, o sorriso de encorajamento da mãe é capaz de produzir maravilhas! “Mamãe acredita em mim, pensa que sou capaz, deve ser verdade, não vou decepcioná-la.” “Muito bem, querido, bravo! Eu sabia que você conseguiria. Continue assim.” Em um clima de encorajamento e ternura, a alma da criança se desenvolve.
Sem mesmo esperar pelo sucesso, é preciso encorajar o esforço, como nosso Pai do Céu que leva em conta a nossa boa vontade apesar das nossas falhas no trabalho da nossa santificação. Alice, de 9 anos, tomou a iniciativa de passar o aspirador de pó; claro, ela se esqueceu de aspirar atrás da porta e sob o aparador. O essencial, no entanto, é que ela tenha pensado em realizar esse serviço e é isso que devemos encorajar. Ao seu tempo, aprenderá a fazer a faxina bem feita. “Obrigada, minha querida, por ter aspirado. Isso me ajudou bastante.”
Crer nas capacidades da criança é particularmente necessário quando ela é de temperamento tímido, receoso, de pouca iniciativa. Essas crianças têm necessidade de desenvolver pouco a pouco confiança nelas mesmas por meio de pequenas vitórias fáceis e repetidas, além de muito encorajamento. Ao contrário, caso sejam repreendidas e corrigidas a todo momento, perderão o estímulo e deixarão o esforço de lado, persuadidas de que são inúteis.
Ocorre o contrário com os temperamentos vaidosos, prontos a se satisfazerem consigo mesmos, ou ainda, com as naturezas mais brilhantes, que facilmente tem sucesso em tudo que fazem. Os encorajamentos, nesse caso, devem ser moderados para não inflarem o seu orgulho. José tem muita facilidade para os estudos e tira notas boas sem grandes esforços: “Papai, veja, tirei 9 em matemática!”. “– Sim, mas não estudou quase nada; se tivesse se dedicado de verdade, teria tirado dez talvez...” No que diz respeito à essas crianças, é a intenção sobrenatural, a aquisição da virtude e, especialmente, a humildade, que precisamos encorajar. “José, vai estudar! – Mas, pra que? Eu já sei tudo – Então, se não precisa estudar, pode corrigir o dever do seu irmãozinho? O bom Deus te deu facilidade com o estudo para que possa ajudar os outros, não para que fique de braços cruzados.”
O método de dar indistintamente, a todas as crianças da família, uma soma em dinheiro a cada nota alta, aparenta equidade, mas nem sempre é justo. Não leva em conta as diferenças de critérios dos professores bem como, e sobretudo, as diferenças entre as crianças: José é brilhante, vai encher o bolso de dinheiro sem esforço algum, enquanto que o seu irmãozinho, menos dotado, apesar de estudar bastante, se verá privado da recompensa e ainda arrisca-se tornar-se invejoso.
Pode-se, de resto, para encorajar os filhos, dar-lhes uma soma em dinheiro quando têm sucesso? Recompensar desse modo um esforço mais árduo pode ser um modo de lhes fazer compreender que o dinheiro se ganha com o suor do rosto. No entanto, não se deve agir assim habitualmente, pois isso arrisca desenvolver uma tendência à avareza e à venalidade. A criança deve se esforçar, antes de mais nada, para agradar Jesus, para agradar os seus pais. A verdadeira recompensa, a que mais conta, é o sorriso dos pais.
Saibamos nos alegrar com o progresso dos nossos filhos e sejamos justos com os seus esforços, assim como nosso Pai celestial que leva em conta até mesmo um copo d´água dado em seu nome.
Pergunta: Crianças que morrem sem ser batizadas não podem ir para o Céu, mas, ainda assim, elas não fizeram nada de errado, e não é culpa delas que elas não tenham sido batizadas. Como isso pode ser reconciliado com a justiça divina?
Resposta: Não há nenhuma afirmação direta nas Escritura sobre o destino das crianças que morrem sem o batismo. O texto de Mt 19,14 (também o de Mc 10,14 e Lc 17,16), “Deixai os meninos e não os impeçais de vir a mim”, não se refere expressamente às crianças. Nessa passagem, Cristo apenas quer dizer que devemos ser simples como crianças para entrarmos no Reino de Deus.
Porém, há afirmações indiretas em textos bíblicos segundo as quais ninguém entrará no Céu sem renascer através do Batismo. E, portanto, sabemos que crianças não batizadas não poderão ir para o Céu. Aonde elas irão nós sabemos pelo ensinamento da Igreja, baseado na tradição e nos ensinamentos dos teólogos. As crianças não batizadas não vão para o inferno porque elas não cometeram pecados pessoais, e ninguém será condenado sem ter cometido pecados pessoais. O pecado original com que essas crianças estão infectadas não é um pecado pessoal delas, mas um “pecado natural”. O lugar aonde elas irão nós chamamos de limbo ou limbus. Podemos compará-lo com o lugar onde os patriarcas antes de Cristo aguardavam até que o Céu fosse aberto a eles. Mas não sabemos onde fica esse lugar. No limbo, de acordo com os ensinamentos dos teólogos, essas crianças desfrutam uma felicidade natural.
A privação dessas crianças da visão beatífica de Deus não lhes causa tristeza ou sofrimento algum. Pois ou elas não sabem que essa felicidade foi dada a outros, ou, se Deus lhes revelou (o que nós não podemos afirmar), elas conseguem compreender que essa felicidade é um dom inteiramente gratuito de Deus sobre o qual ninguém pode reivindicar um direito.
Portanto, o destino delas não é contrário à justiça divina. Elas não sentem falta de nada: elas são felizes e não sofrem mal algum. Embora essas crianças sejam privadas de algo que foi dado a outros, isto é, a visão beatífica, trata-se de algo a que elas não têm um direito, pois se trata de um dom sobrenatural. E, assim, se as crianças não batizadas souberem alguma coisa sobre esse dom, elas se alegram com a felicidade dos outros.
São Paulo respondeu a essa pergunta quando escreveu: “Logo, ou comais, ou bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus… Tudo que fizerdes, fazei-o pelo Senhor e não pelos homens”. Santo Agostinho ensina que devemos converter nossa vida, nossas ações, nossas ocupações, nossas refeições, até mesmo nosso repouso em um hino de louvor a Deus: “Que a harmonia de vossa vida se eleve como uma canção, para que vós jamais cesseis de rezar… Se vós desejais louvar, canteis, portanto, não apenas com vossos lábios, mas dedilheis as cordas do saltério das boas obras; vós louvais quando trabalhais, quando comeis e bebeis, mesmo quando descansais, quando dormis; vós louvais mesmo quando estais em paz”. Santo Tomás expressa, resumidamente, o mesmo pensamento: “O homem reza na medida em que direciona toda sua vida a Deus”
É o amor que direciona toda nossa vida a Deus. A maneira prática de direcionar todas as nossas ações dessa maneira é oferecer cada uma delas à Santíssima Trindade em união com Jesus Cristo vivendo em nós e de acordo com Suas intenções.
Devido à nossa natureza decaída, nossas intenções e nossos pensamentos facilmente tendem para o pecado, e, se seguissemos as inclinações de nossos sentimentos, nossas obras seriam pecaminosas. Portanto, devemos renunciar a nossas próprias intenções para nos unir às de Jesus. Ao iniciar qualquer ação, devemos renunciar a todos os nossos sentimentos, todos os nossos desejos, todos os nossos pensamentos, todos os nossos desejos para entrarmos, de acordo com a palavra de São Paulo, nos sentimentos e intenções de Jesus Cristo.
Quando nossas ações perduram por algum tempo, é útil renovar essa oferenda voltando o olhar para o Crucifixo ou, melhor ainda, para Jesus vivendo em nós, e elevar nossa alma a Deus através da repetição de jaculatórias. Dessa maneira, nossas ações, mesmo as mais comuns e básicas, tornar-se-ão uma oração, uma elevação da alma a Deus, e nós, portanto, cumpriremos o ensinamento de Jesus: “Orai e Vigiai”.
Pe. Juan Iscara, FSSPX
“Inimigos” são aqueles que nos odeiam, ou que nos fizeram algum mal sem uma justa compensação ou a quem sentimos aversão por algum motivo (desgosto natural, inveja, etc).
Há um preceito divino especial de amar esses inimigos, não enquanto inimigos, mas na medida em que são capazes da bem-aventurança eterna e, de fato, estão destinados a ela. A inimizade deles é um mal e, como tal, deve ser rejeitada, mas as pessoas que são nossas inimigas devem ser amadas pelos dons que Deus lhes deu – elas devem ser amadas por Deus. O preceito é “especial” no sentido de ter sido promulgado por Nosso Senhor em pessoa (Mt 5, 4) e em razão da dificuldade de colocá-lo em prática. Na verdade, ele não é diferente do preceito de amar ao próximo.
Portanto não devemos odiá-los, isto é, não devemos desejar-lhes mal algum, nem nos alegrarmos com algum mal que lhes suceda. Mesmo sendo nossos inimigos, não deixam de ser filhos de Deus e de terem sido chamados à bem-aventurança; odiá-los seria um pecado, é incompatível com o amor de Deus.
Não podemos vingar-nos deles, isto é, não podemos retribuir o mal com o mal, pois essa intenção deriva do ódio ou de outro motivo desordenado. Em teoria, é permitido desejar algum mal, algum tipo de punição ou sofrimento a eles, mas apenas se formos motivados por motivos de justiça ou de caridade genuína – isto é, para por um freio ao malfeitor e restaurar a ordem da justiça, ou para ajudá-lo a corrigir-se e a voltar-se para Deus. Mas, na prática, em razão da nossa fraqueza, é muito difícil agir baseado puramente nesses motivos. Portanto, é melhor abster-se de desejar mal a qualquer um.
Somos obrigados a dar aos nossos inimigos os sinais comuns de caridade dados a qualquer homem (por exemplo, responder a um cumprimento ou a uma pergunta) ou a aqueles que estão em condições específicas (por exemplo, ser misericordioso com os pobres).
Dentro de certas circunstâncias extraordinárias, quando certos sinais especiais de caridade são devidos pois sua omissão ou negação seria interpretada como ódio ou inimizade, podemos estar até mesmo obrigados a mostrar sinais especiais de caridade que não seriam devidos a qualquer pessoa (ou seja, aqueles que não são exigidos por sua condição, estado ou pelos costumes), mas dados por liberdade e numa amizade especial.
Somos obrigados a perdoar nossos inimigos, pois não fazer isso nos levaria de volta ao ódio da inimizade – mas não somos obrigados a aceitá-los novamente como amigos e a dar-lhes os sinais de afeição que antes dávamos.
Finalmente, o ofensor é obrigado a buscar reconciliação o quanto antes. Mas ele está isento disso se tiver certeza moral de que terá o perdão negado, ou que vai aumentar ainda mais a tensão entre as partes, ou se o ofendido não estiver disposto a aceitar nada além da total humilhação do ofensor.
A lei natural do direito à propriedade privada traz consigo o direito de comprar e vender, possuir e, conseqüentemente, negociar bens como ações de empresas públicas ou privadas. Esse investimento privado é, de fato, absolutamente essencial para o bem comum, pois sem capital não pode haver produção. O fato de o resultado de tais investimentos ser altamente arriscado não altera a moralidade, desde que um homem não invista os fundos necessários para o sustento de sua família. Tampouco se o ganho de um homem for, paralelamente, a perda de outro, desde que não haja engano, fraude ou que se tire proveito da ignorância dos demais.
Especulação, no entanto, não é a mesma coisa que investimento, mas é a colocação de dinheiro a curto prazo, em ações ou moedas, a fim de obter um ganho rápido com uma venda rápida no momento em que o mercado estiver forte.
Tal especulação não é contrária à justiça, uma vez que os termos do contrato são mantidos, nem pode ser considerada em si um pecado, uma vez que todos os termos dos vários contratos de compra e venda e os requisitos do direito civil são observados. No entanto, "eles não são moralmente louváveis, a menos que sejam exigidos por alguma necessidade comercial" (Merkelbach, Summa Theologiae Moralis, II, §604).
O princípio é dado pelo Papa Pio XII em uma mensagem de rádio para o mundo inteiro, em 1º de setembro de 1944, na qual ele condena não apenas o comunismo, por sua negação do direito à propriedade privada, mas também “o capitalismo... fundado em uma concepção errônea que arroga para si um direito ilimitado sobre a propriedade fora de toda subordinação ao bem comum", tendo isso sempre sido condenado pela Igreja "como algo contrário à lei natural”
O católico de reta consciência deve fazer uso do seu capital e de seus investimentos não apenas para seu próprio lucro, mas também para o bem comum da sociedade. É altamente duvidoso que especulações transitórias nos mercados acionários ou monetários redundem em alguma contribuição real ao bem comum. Ao contrário, devem ser supostas como egoístas e prejudiciais ao bem comum.
O Pe. Merkelbach explica o porquê de não considerar a especulação como algo moralmente louvável:
“[tais especuladores] retém indevidamente seu capital em operações intermediárias que não têm utilidade real; e buscam obter riquezas sem mão de obra proporcional e sem subordinação ao bem comum, com prejuízo aos outros que não se expõem livremente ao acaso, mas são obrigados a fazê-lo por razões comerciais. Além disso, o costume de se preocupar com especulações monetárias leva a um desejo avassalador de ganhos, ao qual subordinam todas as coisas e todas as atividades; engendra uma ansiedade constante e expõe empresas e famílias a um grande perigo de desperdício, ociosidade e ruína financeira." (Ibidem)
É lamentável que alguns católicos tradicionais considerem que esse modo de vida seja compatível com o Reinado Social de Jesus Cristo, engajando-se, como fazem, em tais comércios pela Internet, sem se perguntarem se esse comércio especulativo poderia servir a Cristo Rei, ou talvez seguindo o falso princípio de que os fins justificam os meios. Podemos conhecer o pensamento da Igreja sobre esse ponto na tradicional interdição do Código de Direito Canônico (1917) desse tipo de especulação dessa sorte para todos os clérigos e religiosos, mesmo se feita em benefício da Igreja ou de outras pessoas (Can. 142).
-Fr. Scott, maio de 2007
Pe. Thierry Gaudray - Fsspx
O uso de eletrônicos — independente do formato — deve ser moderado. Estima-se, no entanto, que adolescentes de 13 a 18 anos gastem em média 6h45 diariamente na frente das telas. Eles não usam os aparelhos da mesma maneira: se as meninas passam uma hora e meia nas redes sociais, os meninos dedicam a elas 50 minutos; por outro lado, enquanto as meninas consagram aos videogames uma média de 10 minutos diários, os meninos gastam uma hora com esses jogos. Os entrevistados parecem estar cientes do perigo do uso da tecnologia, mas sua principal preocupação é com os outros: enquanto 10% das pessoas se declaram viciados nos eletrônicos, pensam que 70% dos outros também o são …
Estamos preocupados mais com os outros ...
Até mesmo pessoas mundanas compreendem que há algo de vergonhoso no uso excessivo de telas e tentam escondê-lo, até de si mesmos. Os participantes de uma pesquisa responderam que passavam em média 2h55 por dia em seus telefones, mas quando verificou-se o "spyware" instalado anteriormente em seus dispositivos, descobriu-se que eles realmente passavam 3 horas e 50 minutos.
Todos os estudos mostram que o uso de telas dificulta em muito a aquisição de conhecimento. Em uma pesquisa — e este é um exemplo entre centenas — crianças de 13 anos foram submetidas a um pequeno teste: após um exercício de memorização, foram-lhes oferecidas atividades diferentes uma hora depois. O primeiro grupo jogou um videogame violento, o segundo assistiu a um filme e o terceiro fez algum tipo de atividade. No dia seguinte, os três grupos haviam esquecido 47%, 39% e 18%, respectivamente, do que haviam aprendido.
Efeitos perniciosos
Os efeitos a longo prazo são muito mais graves. Certos problemas de atenção estão certamente relacionados ao uso de telas. Existem dois circuitos neurais diferentes, ambos nos tornam "focados" e fazem com que "não percebamos o tempo passar". O primeiro é automático e exógeno; permite-nos estar atentos ao mundo à nossa volta. O segundo é voluntário e endógeno: é o que nos permite entender, encontrar uma ordem lógica e aprender. As telas excitam artificialmente o primeiro e prejudicam o segundo. As variações sonoras, os flashes visuais, as mudanças de cenas, a multiplicação dos ângulos de visão, o rápido emaranhado de sequências narrativas... mantém o espectador agitado, sem que ele tenha feito esforço algum. E assim, a capacidade de pensar não para de diminuir. A empresa Microsoft publicou um estudo que mostra que o tempo de atenção dos homens caiu para 9 segundos em média. A própria companhia os compara ao peixinho dourado, que é capaz de fixar o olhar por 8 segundos... Se as mensagens não forem cada vez mais incisivas e provocantes, os homens se distraem com outras coisas. É preciso atrair constantemente a sua atenção, de um modo que somente os eletrônicos conseguem fazer. A realidade e os livros tornam-se entediantes para eles.
Homem virtuoso ou homem digital
Os católicos tradicionalistas estão imunes à onda que varre o mundo ao nosso redor? É muito difícil se proteger dessa revolução, uma vez que a presença desses eletrônicos nas casas, ou mesmo nos bolsos, torna-se muitas vezes inevitável. Ademais, muitos procuram se justificar afirmando que a nova tecnologia não é intrinsecamente perversa. Isso pode ser verdade, mas é uma tecnologia perigosa! É somente à custa de meios muito rigorosos que a ruína pode ser evitada. As telas fascinam; a luz e a rápida sucessão de novas imagens hipnotizam; a atração da curiosidade — que São João chama de concupiscência dos olhos — é poderosa. Pouquíssimas pessoas se impõem disciplina suficiente para regrar o uso de telas e, no entanto, isso é algo possível. Em Taiwan, não é permitido deixar uma criança com menos de dois anos de idade com um tablet (está prevista uma multa de 1.500 €) e seu uso por menores deve ser regulamentado (o objetivo é não deixar que utilizem por mais de 30 minutos consecutivos). A esperança da salvação eterna e a busca da santidade não são motivos mais poderosos do que uma contravenção? É essencial definir horários fora dos quais o uso dessas máquinas esteja proibido. O domingo deve ser mantido como um dia sagrado, longe da tecnologia escravizante.
O homem é responsável pelas influências a que se submete, correndo o risco de perder sua liberdade interior. A consciência hipnotizada pelas telas acaba adormecendo com o sono culpado. Embora Deus tenha fornecido à natureza humana capacidade de se adaptar às circunstâncias por meio da aquisição de saudáveis hábitos libertadores, os meios modernos de comunicação exploram as fraquezas da nossa psicologia para fins comerciais e revolucionários. O homem virtuoso se eleva acima do protesto da natureza ferida; o homem "digital" deixa-se levar pelas demandas habilmente projetadas do universo das telas.

Irmãs da Fraternidade Sacerdotal São Pio X
Como preâmbulo, permitam-me narrar um pequeno fato ocorrido em um de nossos colégios primários. Certo dia, vieram-me avisar que um policial gostaria de falar comigo no parlatório. Com uma ponta de apreensão no coração, dirigi-me ao local indicado e logo me encontrei diante de um jovem que me cumprimentava respeitosamente, e me falava do seu desejo de matricular o filho no nosso colégio. Respirei mais livremente quando me apresentou os motivos que o levaram a essa decisão. Em seguida, declarou à queima-roupa: “Irmã, faço parte da S. D. A”.
Sem compreender do que se tratava, perguntava-me se seria alguma polícia secreta…
Mas o rosto sorridente do policial contrastava com meus pensamentos íntimos. “Eh… O que significa S. D. A.?” perguntei-lhe, vagamente inquieta. O homem respondeu com um enorme sorriso, um pouco surpreso com minha ignorância. “Ora, é a Sociedade da Alegria, de Dom Bosco!”
Que descoberta! Apesar do nosso mundo moderno, e da crise da Igreja, aquele rapaz soubera guardar sua alma na Fé da sua infância e na virtude, graças à Società dell’allegria, fundada por São João Bosco.
“Servi o Senhor com alegria” (Salmo)
A educação da criança católica não deve ser feita com moleza — isso nós já sabemos, pois, detrás do seu rostinho de anjo, há terríveis defeitos a serem combatidos.
Mas, para não nos arriscarmos a quebrar o caráter da criança, essa educação deve ser alegre.
Notemos desde já que não se trata aqui da alegria segundo o mundo, que muitas vezes traduzimos com a palavra diversão. A alegria católica é, antes de tudo, interior, fruto e manifestação do nosso amor por Deus. A atmosfera do bom Deus, da sua graça, é a alegria. O pecado só gera a tristeza.
A criança precisa aprender na sua casa que a virtude encerra alegrias profundas, que a religião não é amiga da tristeza e que, muito ao contrário, ela abençoa e encoraja toda alegria pura.
“A alegria seja sempre contigo”(Livro de Tobias)
A criança só se desenvolverá realmente em um clima de alegria.
Preservar a alegria no lar é, para os pais, um dever e uma necessidade. Um dever, pois eles devem se lembrar que as mais puras alegrias da vida, o homem as desfruta ao longo da sua infância. Necessidade também, pois a alegria favorece a saúde física e moral, facilita o despertar da inteligência, afasta o vício, desenvolve a confiança, contribui, finalmente, para a eclosão da virtude. Cercada de uma alegre serenidade, a vontade aceita mais facilmente e executa com mais prontidão as ordens e os conselhos que recebe.
Criar ao redor de si uma atmosfera de alegria católica, difundir os seus raios benfazejos por onde passa é uma das melhores caridades que podemos fazer.
A maioria dos pais, cumulados de preocupações, não percebem as riquezas que desperdiçam — tanto para si mesmos como para os seus filhos — ao deixar de sorrir para eles. A criança, se não recebe sorrisos, não sabe sorrir. É claro que há na vida muitas dificuldades, muitos incômodos, mas nada mais funesto para o equilíbrio harmonioso de uma criança do que ralhar com elas desmesuradamente, sem considerar a sua idade.
“Vivei realmente na alegria” (São Teófano Venard)
Para superar pacificamente as provações que a esperam, a criança deve saber reagir com bom humor e possuir uma boa dose de otimismo que lhe permita sempre considerar os homens e as coisas de modo bom. Para tanto, nada vale mais do que a atitude alegre e sorridente dos pais.
É desde os primeiros anos que lhe devemos habituar a agir com amabilidade, pois é essa uma virtude a ser conquistada, dia após dia.
Em um dia de férias, mamãe planejou uma bela caminhada na floresta com direito a piquenique. Todas as crianças ficaram felizes. Mas, uma chuva fria e persistente vêm entristecer o rosto dos pequenos. Mamãe reune os filhos: “O bom Deus quis assim e Ele nos ama. Que vamos fazer? Podemos caminhar assim mesmo, mostrando que somos valentes e não temos medo da chuva? Se não conseguirmos, vamos organizar uma tarde de jogos em casa!”
“Alegrai-vos incessantemente no Senhor" (São Paulo)
É na vida concreta de todo dia, tirando partido de todas as ocasiões, que educaremos a criança para a alegria. Seus pequenos dissabores, seus fracassos, suas lágrimas, nós os receberemos com bondade, mas teremos o cuidado de não dramatizar e de animar a criança com algum comentário que lhe faça sorrir.
Se a criança manhosa se fecha num mutismo mal-humorado, como tirá-la disso? Quando o momento “passional" tiver passado, com tato e afeição, pediremos a ela que sorria. “Era assim que me corrigiam das minhas teimosias”, escreveu Santa Emília de Rodat.
Manifestar alegria é um meio de suscitá-la. Durante as refeições, os pais devem deixar de lado as suas preocupações e animar alegremente as conversas. Nas suas caminhadas, partilhem com as crianças a sua admiração pelas belezas da criação. Ao caminhar ao redor de um lago ou de uma montanha, pais surpresos ouviram da sua filhinha de dois anos: “Como é bonito!”. Muitas vezes, ela ouvira os seus pais expressando admiração pelas belezas da natureza e esses sentimentos se comunicaram a sua alma de criança.
“Sta Allegro” (São João Bosco)
O único meio de educar a criança na alegria católica é, antes de mais nada, possui-la. Se nossa alma está pesada e melancólica, repitamos com o salmista: “Por que te deprimes, minha alma? Por que te conturbas dentro de mim? Espera em Deus…”
Pais católicos, pedi sem cessar a graça da alegria — pois exista uma — àquela que a Igreja chama, na Ladainha, de “Causa da nossa alegria”. E que o doce sorriso de Nossa Senhora da Alegria ilumine as suas casas e cada um dos seus membros.
Os princípios tradicionais da moralidade católica expressamente proíbem todo e qualquer uso de armas nucleares em tempos de guerra. A razão para isso é que, como os autores dizem, assassinar inocentes é um ato ilícito e imoral que não pode ser justificado pelo objetivo de vencer a guerra. Os não-combatentes, isto é, aqueles que não contribuem direta ou indiretamente para o sucesso dos atos de guerra do inimigo, devem ser considerados como inocentes. Atacá-los diretamente por qualquer razão, como abalar o ânimo da nação, é um ato imoral. Entende-se que a morte de inocentes pode, ocasionalmente, acontecer como um efeito colateral da guerra, mas não como um efeito primário, diretamente buscado. Nesse caso, não é imoral, mas desde que não seja algo desejado, mas apenas um efeito colateral inevitável de uma ofensiva agressiva ou do bombardeiro de alvos militares.
Porém, as armas nucleares provocam destruição em massa de populações civis inteiras e não podem ser utilizadas para atacar alvos militares isoladamente. Portanto, a morte de civis inocentes e de não-combatentes não é um mero efeito colateral: é o que se busca diretamente. Isso é manifestamente imoral, não importando que a guerra seja justa.
Essa realidade deve, porém, ser modificada em razão da natureza dinâmica da guerra no mundo moderno. Surgiu uma nova forma de barbarismo que responde pelo nome de “guerra total”. Desde a Guerra Civil Americana, as guerras modernas não têm sido um simples conflito entre combatentes de ambos os lados, e essa realidade tem aumentado de maneira cada vez mais intensa. Todos os recursos de um povo passaram a ser direcionados para a guerra e para a destruição total do inimigo, incluindo a indústria, a educação e toda a infraestrutura de uma sociedade. Esse conceito de guerra é manifestamente imoral e não pode, de maneira alguma, ser usado para justificar a morte de inocentes ou de não-combatentes.
A dificuldade surge quando uma nação inimiga passa a empregar a técnica da guerra total. Pode acontecer de a única maneira de se defender contra um agressor injusto em uma guerra imoral como essas seria responder à altura, alocando todos os recursos do país e atacando os alvos civis do inimigo (cf. Fagothey, Right and Reason, p. 572). A justificativa para essa resposta seria que, nesse caso, não existem não-combatentes e que, como a população inteira está envolvida na atividade de guerra inimiga, então todos podem ser alvos de agressão para autodefesa. Apesar disso poder ser admitido como uma possibilidade teórica, seria uma decisão extremamente difícil de se tomar.
Consequentemente, pode-se imaginar uma situação na qual a morte de um grande número de civis através do uso de armas nucleares poderia ser justificado através do princípio do efeito duplo, ou seja, como um meio necessário para se vencer uma guerra justa. Porém, mesmo nessas circunstâncias, teria que haver uma razão proporcional ao mal que a morte de inocentes representa, a saber, o bem desejado. Meu ponto é que, no mundo moderno, essa razão proporcional jamais poderia ser imaginada. O uso de uma arma nuclear acarreteria o uso de outras armas nucleares pelo inimigo ou por seus aliados, e um ciclo de destruição inacreditável seria criado, o que faria a situação geral ser um mal muito maior do que mesmo perder uma guerra justa.
Consequentemente, parece-me que, ainda que se conceda a possibilidade teórica de a guerra total ser respondida com uma guerra total, na prática, o uso de armas nucleares jamais seria permitido.
É patente que o uso de armas atômicas contra Hiroshima e Nagasaki, em 1945, foi imoral. Naquele momento, não havia ameaça às populações civis nos países aliados, nem se poderia dizer que havia uma guerra total. Certamente não havia razão proporcional ao sofrimento dos civis, destruição e miséria que resultaram, sem mencionar o escândalo público e o horror de que uma nação “civilizada” perpetrou um ato tão bárbaro contra inocentes.
— Pe. Scott, Maio de 2003.
Apóstata é a pessoa que já foi católica e que abandonou toda a prática da religião. Por ter recebido e crido na fé católica e por ter conhecido ao menos alguma coisa da ordem sobrenatural da graça, não é possível que tal pessoa esteja de boa fé, como seria possível a um protestante que parou de praticar sua falsa religião. A razão para isso é que a boa fé pressupõe ignorância invencível. Ignorância invencível só é possível para aqueles que não têm possibilidade de conhecer a verdade acerca da revelação divina, e cuja ignorância, portanto, não é culpável. Alguém que já teve a virtude teológica da fé infundida no batismo e que recebeu ao menos alguma instrução na fé católica não pode estar em ignorância invencível. Ele pode, certamente, estar em ignorância quanto à verdadeira Igreja e seus ensinamentos, mas, se ele estiver nesse estado, é por culpa própria, e sua ignorância é vencível. Aparentemente, as únicas exceções a essa regra seriam católicos batizados que nunca receberam ensinamento algum sobre a fé, ou que não receberam exemplos de vidas católicas.
A Igreja Católica recusa exéquias cristãs a todos os pecadores públicos, incluindo apóstatas públicos que não se arrependeram. Se eles deram algum sinal de arrependimento antes da morte, ainda que seja um sinal ao menos provável, como palavras de tristeza pela sua teimosia ou o desejo de receber um Padre, a Igreja pode ter alguma esperança quanto à sua salvação eterna e, portanto, autoriza um funeral cristão. Desnecessário dizer, porém, que apenas Deus pode julgar a alma, então é permitido rezar em privado e oferecer Missas privadas pelos apóstatas que não deram sinais de arrependimento.
- Pe. Scott, Agosto de 2005.
Irmãs da FSSPX
Durante um sermão em Ecône, em 11 de fevereiro de 1979, Dom Marcel Lefebvre saudou as famílias dos seminaristas assim:
“Penso que seria uma ingratidão deixar de invocar o papel da família católica na vocação sacerdotal ou religiosa. Certamente devemos muito das nossas vocações aos nossos queridos pais. Foram eles que, por seu exemplo, por seus conselhos, por suas orações, lançaram nas nossas almas o germe da vocação. Devemos desejar que existam muitas famílias católicas que favoreçam a eclosão de boas, santas vocações.”
A vocação vem de Deus, mas o canal ordinário que permitirá à alma responder generosamente a esse apelo é a genuína educação católica. É na célula familiar que Deus habitualmente prepara as almas que escolheu para si. É preciso, portanto, que os pais compreendam a importância da sua missão de educadores e não temam sonhar grande: o que queremos é formar católicos para que sejam santos!
Muitas vezes, os pais tem planos para o futuro das suas crianças: meu filho seguirá tal carreira que paga bem; minha filha fará um ótimo casamento e eu terei muitos netinhos… e não raro, infelizmente, os pais se opõem a uma vocação nascente. Contudo, não há benção maior nem honra superior a uma família do que ter sido escolhida por Deus para lhe entregar um ou mais dos seus filhos. Se por um lado jamais devemos forçar uma vocação, tampouco devemos impedir o seu despertar por meio de deboches, objeções materialistas ou por quaisquer outros meios dos quais os pais terão de prestar conta no tribunal de Deus.
Não se critica o padre!
Na prática, para favorecer a ação da graça, os pais deverão demonstrar respeito pelos padres e religiosos. É verdade que nem todos os padres são como o Santo Cura d’Ars, e que nem todas as religiosas são como Santa Bernardette… Mas não devemos criticar o padre ou a religiosa diante dos filhos, sobretudo por ninharias. Nas famílias em que as almas consagradas são criticadas, não há vocações, pois mata-se na alma da criança a estima pelo estado sacerdotal ou religioso.
Não é o suficiente não se opor a uma vocação, é ainda preciso cultiva-la por meio de uma educação religiosa sólida, conforme ao espírito dos conselhos evangélicos indicados por Nosso Senhor como via da perfeição: pobreza, castidade e obediência. Vigiem as amizades dos seus filhos, afastem deles as más companhias, os livros, revistas e eletrônicos perigosos; cuidem para que não busquem o supérfluo, mas se contentem com o necessário; ensinem a eles a obediência à Deus e às autoridades que o representam (pais, professores, padres…)
No nosso século amolecido pelo liberalismo vigente e pela procura incessante do conforto, a vocação, que exigirá uma renúncia constante, só poderá ser sólida se a pessoa que a recebe tiver o sentido do espírito de sacrifício. “Se algum quer vir após de mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me.”
O papel da mãe é importantíssimo para fazer com que as crianças aprendam a transformar com generosidade os menores incidentes diários e as obrigações do dever de estado em sacrifícios “por amor de Jesus” ou por algum outro motivo sobrenatural: converter os pecadores, consolar Jesus, ganhar o Céu…
Ingressar na escola de Lu
“Grande é na verdade a messe, mas os operários poucos”, constata Nosso Senhor. Qual é o meio que Ele apresenta para remediar a esse mal? “Rogai, pois, ao dono da messe que mande operários para a sua messe.” Que as mães não hesitem em suplicar a Deus que suscite vocações no meio dos seus filhos. Em Lu, pequena comuna da Itália, as mães decidiram rezar e assistir a cada primeiro domingo do mês a missa nessa intenção: o resultado foi que nessa pequena localidade de 4.000 habitantes surgiram 500 vocações de padres, religiosos ou religiosas em cinquenta anos!
Não há ninguém como a mãe para compreender o coração do seu filho. Quanto mais profundo for o amor maternal, mais buscará, em todas as circunstância, ajudar seu filho a conhecer e amar o bom Deus. E se, mais tarde, o divino Mestre chamar aquela alma, ele a encontrará disponível, inteiramente receptível graças à educação recebida. Que tesouros de graça o bom Deus quer comunicar pelo intermédio das famílias católicas!